Na altura da minha segunda cirurgia, o cirurgião que me operou através do SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) ou mais conhecido "Vale-Cirurgia", disse-me que daí por três meses, seria chamada para uma consulta de seguimento e respetiva alta no hospital de origem do meu pedido de cirurgia. Esses três meses passaram, um ano, dois, até hoje.
Na semana passada, recebi uma carta dos CHUC (Hospitais Universidade Coimbra) - o tal hospital de origem, para ir à consulta pré-cirúrgica. "Esperem lá, como assim? Fui operada há mais de dois anos e estão a chamar-me para a consulta pré-cirúrgica? Deve ser brincadeira".
Liguei para lá e depois de dois dias inteiros a tentar que me atendessem, lá consegui. Expliquei que devia haver um engano uma vez que já tinha sido submetida à cirurgia há dois anos através de um vale-cirurgia. Notei claramente a gaguez da moça que se limitou a dizer-me para lá ir, dizer o que lhe dissera para assim ter alta.
Compreendo que os tempos de espera estejam pela hora da morte, da mesma maneira que compreendo que o meu caso não era urgente. Agora não consigo compreender esta falta de comunicação entre instituições. Logo no momento em que aceitei o vale e marquei consulta, devia ter sido feita a comunicação entre eles. Descobri agora, que nem sabiam que já tinha sido operada... Dá para entender como são tratadas as coisas no serviço nacional de saúde. E do meu ponto de vista, não muito bem. Já parece a mentira pregada no dia 1 de Abril!
Pensei imensas vezes se algum dia devia falar sobre o assunto... Não por ser segredo, mas porque em certo modo achei que era um assunto demasiado privado para partilhar. Mas cheguei à conclusão que este espaço é o meu diário virtual e por isso, não faz mal nenhum falar sobre uma experiência que marcou muito a minha vida. Sendo um assunto algo complexo, optei por não colocar vídeos ou imagens demonstrativas porque até a mim me assusta saber que fui submetida a uma coisa dessas mas sintam-se livres de pesquisar caso queiram saber mais sobre o assunto.
Entrei na puberdade mais tarde que a maioria das raparigas (por volta dos 16 anos). Em pouco mais de meio ano fui presenteada com um peito grande e muito desigual. Tinha um peito dito normal e outro praticamente em dobro, uma assimetria a ponto de me prejudicar a coluna e me causar muito mal estar. À medida que os meses passavam as dores pioravam e, depois de muito andar, e falar com o meu médico de família, consegui ser operada aos 18 anos.
A operação propriamente dita correu bem, tal como o pós-operatório. Nada infeccionou nem me deu problemas de maior. A questão foi, que fui operada por um péssimo cirurgião. Cirurgião esse, que não cumpriu o que me disse. Horas antes, fora me prometida uma redução em ambos os seios, coisa que iria fazer a minha coluna ficar bem, o meu peito ficar mais pequeno e a minha auto-estima voltar para cima. Acabou por não acontecer... Na realidade, foi me reduzido um peito, e o outro... O outro foi só deformado... O Sr. Cirurgião achou por bem operar apenas o peito maior, fazendo no outro, como toque final, apenas uma correção ao mamilo. Medicamente falando, fiz uma mamoplastia de redução num e uma mamoplastia periareolar no outro.
O resultado final, esteticamente, foi horrível. Já para não falar que me submeti a uma cirugia em que a assimetria seria corrigida mas, criaram me foi outra. Sim, a que antes era maior, depois ficou mais pequena que o par. O melhor, foi quando questionei o médico e a resposta dada:
"Minha querida, nem o criador as fez perfeitas. Achas que eu te fazia milagres?"
A vontade de processar aquele homem foi tanta! Depois de me ter feito a merda que fez, ainda tem o descaramento de me dizer aquilo?! Mas acalmei-me, recebi a minha alta hospitalar e voltei à minha vida. Três longos meses de recuperação e só depois, voltei à sociedade.
Se já se situaram no tempo cronológico, já perceberam que mais mês menos mês, fui para Londres. A coisa ficou de parte, quase esquecida e segui o meu caminho. Mas, quis o destino que eu voltasse rápido e com o regresso, foi também altura de me colocar em lista de espera outra vez. Foi quando soube que em Viseu, já só faziam cirurgias a pessoas com cancro da mama e fui reencaminhada para os HUC, em Coimbra, onde estive dois anos à espera. É então que recebo um vale de cirurgia, em Dezembro passado, poucos dias antes de embarcar para a Alemanha. Informei-me bem sobre o assunto e percebi que poderia recusar sem sair prejudicada. Assim foi, mantive os planos e acabei por, mais uma vez, ir e vir num piscar de olhos. O segundo vale não tardou a chegar e já em Portugal, decidi que era desta que se ia resolver o assunto de vez!
O vale de cirurgia, para quem não sabe, consiste em ter direito à operação a custo zero numa instituição privada. Pensei logo em pedir transferência para Viseu, já que a CUF tinha aberto há poucos meses e a especialidade em causa existia lá. Mas não pedi, porque o cirurgião mestre, é o desgraçado que me operou da primeira vez. Nem pensar que voltava a pôr-me naquelas mãos!
A comunicação paciente-hospital começou e em pouco mais de um mês fui à consulta e a cirurgia foi agendada. Assim, faz hoje um mês que fui operada em Coimbra, numa clínica particular. E parece que desta vez, ficou tudo certo. Fui tratada como uma verdadeira princesa, em todos os sentidos (coisa que provavelmente desenvolverei num outro post). Estou muito satisfeita com tudo: o aspeto da cicatriz, o pós-operatório, e todos os curativos até aqui feitos.
A recuperação exige grande dependência e pouco mais faço que levantar e deitar-me no sofá a ver televisão. Sinto assim que ao contar o que está a acontecer, justifico a minha ausência. Espero aos poucos recuperar a mobilidade e autonomia, retomando assim, o ciclo normal da vida