Inscrevi-me neste curso com toda a vontade. Com receio, claro está que o que chega ao fim do mês não fosse suficiente mas lá se aperta o cinto noutro buraco e a coisa vai indo. Tenho tido opiniões, das pessoas que vão sabendo, que estou a desperdiçar tempo e recursos do estado. Porque sejamos sinceros, toda a gente pensa assim. Eu também.
Já lá vão três meses de formação e eu estou como peixe na água. Estou a gostar sinceramente daquilo. Então agora, que entrou em cena a gestão de recursos humanos e contabilística, estou nas nuvens! Sinto-me com 15 anos, com aquela sede de conhecimento e aprendizagem (a maioria não sentiu isto, eu sei. Sou um caso especial). Mas depois olho em volta...
Os meus colegas chegam a tarde e más horas, sem justificações (é sempre culpa do autocarro). Quando em aula, é telemóvel ou pc a toda a hora (curso de informática, recursos constantes). Há quem passe as aulas a ver filmes. Há quem passe as aulas na conversa. Há quem venha só quando lhe apetece. Comecei a perceber que, em 16 pessoas, três ou quatro estão verdadeiramente interessadas em aprender. Só três ou quatro é que estão ali de vontade e não a viver à custa do desemprego (dessas quatro, somos só dois a usufruir dele. Os outros dois não têm descontos suficientes). Todos os outros estão ali só porque sim. Porque é mais fácil pegar num caderno e caneta (e quando a levam!) e ficar sentado das 9h às 17h a ouvir alguém falar. E quando o formador/professor pergunta algo, vêm as respostas das chacha dos distraídos, que conseguem sempre os risos porque são uns engraçados.
A mais nova tem 20 anos e o mais velho 45. Cinco que estão na casa dos 30, nunca trabalharam na vida. Andam de formação em formação, a receber os apoios do estado sem lhe darem nada em troca. E eu, que tenho 23 e 3 anos de descontos ando aflita, por achar que já devia ter 5!
Fico triste por estar incluída neste leque. Porque cá fora, somos todos iguais. Somos todos "sugadores do estado e das minhas contribuições". Ninguém sabe quem tem vontade ou não, quem recebe ou não. Fico triste porque estou ali mesmo para aprender e só eu sei quanto me está a custar a diferença de rendimentos ao fim do mês. E anda ali tanta gente a brincar...
Confesso que tenho dias, quando vejo as contas a pagar, que me apetece desistir e ir trabalhar. Já estive na corda bamba duas vezes. Mas mesmo com dificuldade, vou até ao fim. Posso acabar numa loja de roupa na mesma mas já não tenho SÓ o 12ºano. Pode não me levar a lado nenhum a nível público mas a nível pessoal, é uma realização tão mas tão grande... Estou feliz! E não interessa o que os outros pensam! Eu é que sei da minha vida!
... constato com os meus colegas em como fomos crianças felizes!
Em como nos enchia o peito saltar nos sacos de batatas, arrancar cenouras e ficar com a rama na mão, andar em baloiços feitos de pneus ou partes de mangueiras pendurados em árvores. Correr descalços pelos regos da água durante as regas e ouvir a avó a ralhar. E tantas, tantas outras!
O que é que as crianças têm hoje? Tecnologia. Tecnologia e mais tecnologia.
E sabem o que dói mais? É quando estes assuntos vêm à conversa, os miúdos olharem para nós e acharem que somos extraterrestres por termos sido felizes com tais coisas...
E foi ontem que finalmente aproveitei o Festival do Cinema e me dirigi a uma das salas para assistir a uma bela sessão de entretenimento. A ideia inicial era ver o filme português "Perdidos", mas felizmente para eles e infelizmente para nós, a sessão estava esgotada. Ok, vamos pensar noutras opções, vamos lá ver. Porque não ver aquilo que se prevê acontecer na humanidade? Porque não ver "O Círculo"? E foi mesmo esse. Também por pouco, mas conseguimos.
Tenho que admitir que, tirando o final, foi tal e qual o que esperei. Trata uma temática que me interessa e ao mesmo tempo me preocupa muito. A forma como estamos a deixar a tecnologia preencher as nossas vidas, invadir a nossa privacidade. Quando será que vamos parar? Qual será, e será que existe limite para o ser humano? Nem sei se fiquei mais admirada ou preocupada com a real dimensão que isto pode tomar, porque é algo que não me parece estar longe de acontecer. Cabe nos a nós, a cada um de nós reduzir um bocadinho de toda esta pegada tecnológica.
Vi, gostei e recomendei. Alguém por aí tem opiniões diferentes a dar?
O meu (antigo atenção!) telemóvel não estava estragado. Estava lento, mais a cada dia que passava, mas todas as funcionalidades eram usadas sem qualquer problema. O fator 'fora de moda' nunca me incomodou, mas admito que havia coisas que ele não tinha que já me começavam a fazer falta. Foi o telemóvel que tive durante mais tempo - três anos.
Este 'bicho' tem tudo e mais alguma coisa. Ainda só passou um dia e já o ADORO! Já instalei tanta coisa, e tirei tantas fotos. A qualidade de imagem é fenomenal! Tem uma enorme capacidade de memória entre tantas outras coisas. E isto de ter câmara frontal... É uma verdadeira delicia! Mais! Tem uma aplicação que conta os passos que dou. Acham isto normal?!
Ele gozou tanto comigo... Diz que pareço uma criança que recebeu o primeiro telemóvel. E tem razão, é praticamente isso: eu também me sinto assim, como uma criança mas super super feliz!
Após a reação tida e as descobertas feitas nesta pequena maravilha, tenho a certeza que estava verdadeiramente desactualizada no que diz respeito a esta vertente da tecnologia. Se estava!
Ainda não acredito que tenho um telemóvel que saiu há pouco mais de um mês para o mercado. Ainda não acredito que o Doce orquestrou isto tudo nas minhas costas sem eu, que sou uma desconfiada por natureza, suspeitar de nada! Mais uma vez, obrigada Doce
Sou muito crítica em relação a tudo o que me rodeia. Tenho o defeito de ver defeitos, se é que assim se pode chamar... Diariamente uma nova situação. O que falo hoje é apenas um pequeno pormenor, um simples aspeto. Olho para as crianças e sinto que o futuro está seriamente comprometido. E de quem é a culpa? Dos pais. Exclusivamente dos pais. Aposto agora que esses mesmo pais me vão cair em cima. Vão dizer-me que sou uma miúda que nada sabe da vida e/ou que quando for mãe, também não vou gostar de ouvir uma 'fedelha' fazer estas afirmações. De qualquer das formas, mantenho o meu ponto de vista.
Eu fui criança. Fui criança no verdadeiro sentido da palavra. Andei de baloiço, corri, caí, esfolei-me, trepei árvores, puxei cabelos, entre tantas outras coisas. Traduzido a miúdos: tive infância. E o que é que as crianças têm hoje? Tecnologia. Computadores, telemóveis e tablets, tudo o mais moderno possível. E isto acontece porquê? Simplesmente porque os pais têm perguiça. Perguiça de os aturar. Perguiça de lhes transmitir valores, de os ensinar. É tão mais fácil comprar-lhes tudo sem se preocuparem com nada.
E sabem o que me dói mais? Saber que estas crianças nunca saberão o que é ter infância. Nunca saberão o que é ter infancia porque não sabem o que é brincar...