Este ano será o primeiro em que vou colocar o IRS por minha conta. Moro com a minha mãe, mas tive um rendimento anual superior ao permitido para colocarmos em conjunto. Assim, dirigi me à senhora que o costuma fazer e entreguei a minha papelada toda. Não faço a mínima ideia de como preencher o suposto, apesar de saber que cada vez mais há plataformas e ajudas online que tornam tudo prático. Mas como a preguiça foi maior e optei pela opção mais fácil.
Foi-me dito que tendo em conta o meu ordenado, não ter filhos nem despesas de habitação, teria que ter despesas para justificar ou pelo menos compensar os ganhos com os gastos e assim reaver o IRS que descontei ao longo do ano. Pedi sempre fatura, sempre com contribuinte. Desde restaurantes, estadias em hotel, roupa, cabeleireiro, farmácia, tudo e mais alguma coisa.
Quando recebi a minha folha de vencimentos da sapataria, fiquei imensamente feliz com o valor que vi que receberia de volta. Tendo em consideração que estaria na Alemanha, ia saber imensamente bem um dinheirinho extra. Meti aquele valor na cabeça e convenci-me que era esse que ia cair na minha conta, cêntimo por cêntimo. Acontece que a contabilista ligou-me a informar que após fazer a simulação, o valor era cerca de um terço.
Parou tudo! O QUÊ?! Como assim? Um terço? Por que raio e por alma de quem?
Ok, sou nova nestas andanças e não faço a mínima de como as coisas funcionam mas no ano anterior, o valor que constava na minha folha de rendimentos, foi o valor que recebi - certinho e direitinho! Porque é que esta ano é diferente? Por ser um valor maior?
É normal ser assim ou a contabilista está me a enganar?
Ontem, numa visita rápido ao Pingo Doce, com o Doce, andava nas prateleiras da entrada quando vi uma senhora que reconheci. Ela olhou para mim, desviou o olhar, olhou novamente e como reparou que eu também estava a olhar, lá me disse que tinha a sensação que me conhecia, mas não se lembrava de onde. Respondi lhe que provavelmente seria da sapataria (onde trabalhei no ano passado) e quando dou por ela: a senhora deu-me dois beijinhos e fez uma festa doida.
Perguntou-me se ainda lá trabalhava ao que eu respondi que não e foi aí que os olhos dele quase brilharam. Ficou tão contente por mim e disse coisas que nem vale a pena mencionar. Entretanto apareceu o Doce, juntou-se à conversa, à troca de opiniões quando ela percebeu que ele também lá trabalhara e que fora lá que nos conhecemos. Disse-lhe, por entre a conversa que foi das melhores coisas que 'trouxe' da sapataria ao que ela nos felicitou e desejou tudo de melhor.
No ano que lá estive decorei muitas caras, de muitos clientes. Claro que algumas, me ficaram gravadas na memória com maior intensidade e esta senhora foi uma delas. Porquê? Porque tenho um grande defeito que é ser também consumidora e então, não fui capaz de ver a injustiça que acontecera com aquela cliente e tive que intervir em defesa dela. Já tinha sido atendida por três colegas minhas e nenhuma lhe resolvera o assunto, empatando sempre a senhora uma e outra semana até que deu de caras comigo e a situação ficou resolvida quase na hora.
Voltando um pouco atrás, e para avivar a memória, os meus problemas naquela empresa só começaram quando se tornou pública a minha relação com o Doce, porque era proibido - só que não, nada disso dizia no meu contrato nem fora mencionado em altura alguma! Claro que depois disso, foi sempre a descer até ao dia em que não aguentei mais a falta de respeito e me demiti.
Entretanto despedi-me da senhora. Agradeceu me novamente pela situação que nos tornou conhecidas e foi cada um à sua vida. Mais uma vez, fiquei de coração cheio. Na altura fui contra a empresa e muito criticada por isso, mas fiz o que estava ao meu alcance para resolver o assunto a uma cliente que tinha total razão e assim mantê-la, porque graças a isso, ainda hoje compra lá.
(Nunca antes mencionei o motivo pelo qual me demiti. Houve muitas razões para isso acontecer, uma delas foi eu não saber bem como, mas a minha antiga patroa saber da existência deste blog e me ter ameaçado mais que uma vez com um processo sobre difamação da empresa. Por isso também, nunca disse nomes de colegas, de localização de lojas ou mesmo o nome da sapataria em si. Claro que quem me conhece 'na vida real' sabe qual é, mas assim, estou salvaguardada não vá o diabo tecê-las.)
Quase sem dar por ela já lá vão dois anos, 731 dias disto.
Desejo antigo que a preguiça nunca me tinha deixado concretizar. A 3 de Março de 2015, um dia em que o sol me entrava pela janela, disse para mim mesma que estava na altura e finalmente, aderi a esta plataforma maravilhosa onde tenho sido tratada com imenso carinho.
Durante todo este período passei por fases bastantes diferentes da minha vida. Algumas traduziram-se em ausências e outras em presença constante. Foram chegando novos utilizadores, criados novos blogues, novos seguidores, novas descobertas e novas alegrias. Houve porém também desistências, blogues que seguia desde os primórdios e que pura e simplesmente desapareceram sem nunca virmos a saber os porquês.
Partilhei convosco a, pensava eu, melhor experiência da minha vida. Mudei-me para Londres, aos 19 anos, para ingressar na universidade num curso que eu pensava amar mais que tudo. Desisti depois de trinta longos dias, marcados pelo choro constante e pelo grande sofrimento interior. Houve palpites e julgamentos de todo o lado, de todo o tipo. De pessoas que eu já esperava e de outras que me apanharam completamente desprevenida. Hoje, é um assunto que parece nunca ter existido. Caí numa espiral auto-destrutiva da qual a minha mãe fez muita força para me tirar. Fui obrigada a sair de casa e a fazer algo de útil para a minha vida. Acabei assim, a entregar currículos e trabalhar na sapataria onde permaneci um ano. As melhores coisas que trouxe desse trabalho foram, para além da experiência, a consciência do que tolero ou não a uma entidade patronal e claro, o meu Doce! Despedi-me e decidi começar 2017 no estrangeiro. Os planos iniciais saíram um pouco furados e cheguei à conclusão que, apesar de existirem muitas coisas boas, não é uma opção de vida compensatória para mim nem para o meu futuro.
Ao longo destes dois anos, o balanço que faço é positivo. Tenho conseguido nestes últimos meses dedicar mais tempo ao meu cantinho, coisa se te tem traduzido em comentários, novos seguidores e visualizações. Durante a existência, fui destacada por duas vezes, nos primeiros meses pelo voluntariado e recentemente pelo desabafo. O post que mais comentários reuniu foi relacionado com a empresa que me 'levou' para Londres e a paixão da minha vida. Atingi recentemente o pico de visitas e visualizações com o segundo destaque. Tenho três rubricas ativas: Aquele momento em que... , Doçuras e Viver na Alemanha. Fazem parte do meu espaço 45 seguidores, um terço dos quais se juntaram nos últimos meses. Não sou uma bloguer de sucesso. Mas estou muito feliz e satisfeita com o resultado atual e com a evolução feita.
Obrigada a todos os que estão desse lado e tornam tudo isto possível: à equipa Sapo, aos leitores diários, aos ocasionais, a todos os que passam por aqui de lés a lés. Quanto a ti, querido blog, espero que continues a existir e a acompanhar todas as pequenas conquistas da vida desta jovem que sonha mais do que aquilo que deve. Desejo que continues a crescer por muitos mais anos!
Ontem, entrou uma cliente no restaurante que reconheci. Uma cliente da sapataria. Decidi não abordar o assunto por ter receio de uma eventual pergunta complicada de responder, até que ela...
- Oh menina, bem me parecia que estava a conhece-la. Então, está tudo bem consigo? Já não trabalha na sapataria? Ou trabalha nos dois lugares ao mesmo tempo?!
- Sim, está tudo bem. Não, já saí agora estou só aqui.
- Oh que pena, gostei tanto daquelas sandálias que me vendeu no verão-
- Aquelas prateadas?
- Sim, sim. Usei, usei e vou voltar a usar! Adoro! Realmente já não a via há muito tempo por lá, mas pensei que andava por outras lojas.
- Sim, andei por uns tempos mas saí no mês passado.
- Pronto, são opções não é? Cada um sabe de si!
- É isso, gosto em vê-la, até uma próxima!
Sabia desde o momento em que a vi entrar que a conhecia. Sabia perfeitamente das sandálias que ela falava. Foi talvez das clientes mais queridas que tive o prazer de atender durante todo aquele ano. A mesma, é enfermeira, e já me tinha reconhecido no hospital quando tentei dar sangue a última vez. É bom sentir que, apesar de opiniões superiores contrárias, alguém 'gostou' de ti o suficiente para te recordar onde quer que te veja.
Num dia de Halloween como hoje, há um ano atrás, estava a ter o meu primeiro dia de trabalho na sapataria. Resultado de uma resposta repentina, uma entrevista sem esperança alguma, e o início de um novo ciclo da minha vida.
Durante todo este ano vivi, como em todo o lado, coisas boas e outras menos boas. Consegui, apesar de grandes dificuldades e algumas desilusões criar amizades. Consegui também afeiçoar-me, apesar de tudo, a alguns clientes frequentes nas diferentes lojas. E não esquecendo - encontrei alguém que tive relutância em aceitar, mas que ao longo do tempo, se revelou uma pessoa exactamente como eu esperava - e assim, faz já amanhã meio ano que estamos juntos e felizes.
Pois é, e posto isto, o que venho dizer-vos hoje é que esse ciclo acabou. Depois de uma situação menos boa, optei por entregar, há alguns dias, a minha carta de demissão.
Assim, começo em breve um novo ciclo da minha vida (em breve, porque legalmente ainda me encontro a gozar o período de férias). Espero assim cumprir o dever que tenho para convosco e manter me mais assídua, actualizado-vos sobre qualquer novidade!