Espero que todos tenham tido uma boa Páscoa! Com doces q.b. e muita animação familiar.
Isto leva-nos ao tradicional almoço de Domingo, seguido da visita pascal. É por hábito ter para a mesma, uma mesa com uma jarra de flores, uma laranja, um folar ou são bento e um envelope com a côngrua. Quando finalmente chega a hora do "Cristo ressuscitou. Aleluia. Aleluia" entram pela casa, normalmente 4 pessoas: o padre (ou substituto), o senhor que carrega a cruz, o que traz o sino e o que levanta a côngrua. (Todos sabem o que é a côngrua, certo?). Na aldeia dos meus avós os filhos destes respetivos senhores costumam vir a acompanhar a "procissão". Ontem, quando chegou a nossa vez, uma das meninas entra, vai direta à mesa e diz:
- Pai, aqui não há envelope!
O pai rapidamente a ajuda a "procurar" o dito cujo e lá percebem que sim, há envelope.
Uns riram-se pela audácia da miúda, outros, como eu, pensam no que se está a ensinar às crianças e em como a igreja católica infelizmente se tornou um negócio...
(Não me batam por esta última linha que escrevi. É a minha opinião)
Na sapataria adquirimos recentemente um outro tipo de livro, para complemento do de reclamações: o de elogios. Funciona da mesma forma: identificação da pessoa que elogia e da que vai ser elogiada, o elogio em si, a assinatura e uma cópia para o cliente se assim o quiser.
Creio que quase todas as colegas de loja já tiveram elogios. Eu, pelo menos, tenho 4 até à data. Dois deles que simplesmente dizem que a funcionária foi simpática e atenciosa, outros dois que foram verdadeiros elogios, com um bonito palavriado e um deles, feito à frente do meu patrão.
Faço o meu trabalho o melhor que sei. Tento manter sempre a simpatia e sobretudo a boa educação. Se há clientes que me irritam de vez em quando? Há. Se há dias em que me apetece fugir para longe desta gente doida? Há. Se há dias em que alguns cliente merecem respostas à letra? Há. Mas somos só funcionárias, e pelo senso comum: temos que ouvir e calar.
Sempre fui uma rapariga organizada. Gosto de ter tudo planeado. Sinto uma necessidade enorme de saber sempre o que vou fazer a seguir, como que, ter o 'controlo' das coisas. Neste momento, não sei o que fazer a seguir. E isso preocupa-me. Muito.
Não me arrependi (ainda) da decisão que tomei. Como digo, a situação está a ter impacto porque eu optei por ir estudar para o estrangeiro, caso contrário, ninguém fazia alarido em relação ao assunto. Eu desisti da universidade, só isso. O resto, foi tudo uma consequência.
Se gosto de Viseu? É claro que gosto! Se quero estar perto da minha família? Claro que quero! Mas estamos no interior, e é tudo tão 'parado'. Não acontece nada, não há oportunidades, não há pessoas novas. Adoro viajar, conhecer novos sítios, ter novas experiências. (In)felizmente, Viseu não me pode dar isso.
E, ou muito me engano ou em breve, Londres será novamente a minha casa.
Hoje, escrevo-vos de minha casa, do meu humilde lar. Voltei para Portugal.
A decisão de voltar foi ponderada, ainda que pareça que não. Percebi que, ser universitária, não é para mim. Não é o que eu quero. E, antes que chegasse a um ponto mais avançado, decidi desistir. Não o fiz por saudades, dificuldades linguísticas ou condições financeiras. Filo por mim. Ainda que possa não parecer válido, percebi que não gosto o suficiente de fotografia, ou de qualquer outra opção, para dedicar três anos ou mais, da minha vida.
Ainda estou um pouco acho que em estado de choque. Custa-me entender o que se passou comigo. Eu, que sempre quis ser licenciada. Eu, que toda a minha vida amei estudar. Talvez com o tempo consiga ver melhor as coisas e ter outra perspetiva do assunto. Por agora, estou a tentar digerir tudo. Apesar de saber que é normal, torna-se complicado lidar com os outros quando eu, ainda não consigo lidar comigo mesma.
Os que me amam, dizem que foi uma experiência. Para mim, é só mais uma derrota.
Cá vamos andando... Já passaram quase três semanas. A de apresentação, de introdução ao curso e praticamente a primeira semana de aulas. Aparentemente, porque o meu horário ainda está em mudanças, vou ter aulas às segundas, quartas e sextas. Não é mau, mas preferia não ter dois dias livres a meio da semana e sim, os quatro dias seguidos, tanto para questões de trabalho como para uma escapadinha a Portugal.
Morar nas residenciais acaba por ser bom, eu pelo menos, estou a gostar. Tenho o meu canto, onde posso estar sossegada, só moram raparigas no meu andar e, apesar de sermos todas de cursos e nacionalidades diferente, dos escassos encontros, até são simpáticas.
Em relação ao curso, ainda estou muito à deriva. Talvez pelo facto de não ter qualquer base em fotografia ou mesmo por não ser na minha língua materna, o que, parecendo que não, também complica as coisas. E então, porque é que escolhi fotografia? E porquê no estrangeiro? Porque não tinha média para entrar na minha primeira opção (arquitectura), porque fotografia sempre foi um hobbie, um gosto pessoal, uma actividade de tempos livres. Porque sempre gostei do inglês e sonhei com Londres. Decidi tentar.
Mas toda eu continuo um misto de emoções. Já não tenho aquela vontade irracional de apanhar o primeiro avião de volta a casa mas também ainda não estou como queria. Esta anormal, que está a ter a melhor oportunidade da vida dela, passa os dias a lamentar-se e a ter pena dela própria. Incrível! Mas a velha Nadine vai voltar, eu sei que sim. Só está, digamos que, ligeiramente atrasada...