Ontem, numa visita rápido ao Pingo Doce, com o Doce, andava nas prateleiras da entrada quando vi uma senhora que reconheci. Ela olhou para mim, desviou o olhar, olhou novamente e como reparou que eu também estava a olhar, lá me disse que tinha a sensação que me conhecia, mas não se lembrava de onde. Respondi lhe que provavelmente seria da sapataria (onde trabalhei no ano passado) e quando dou por ela: a senhora deu-me dois beijinhos e fez uma festa doida.
Perguntou-me se ainda lá trabalhava ao que eu respondi que não e foi aí que os olhos dele quase brilharam. Ficou tão contente por mim e disse coisas que nem vale a pena mencionar. Entretanto apareceu o Doce, juntou-se à conversa, à troca de opiniões quando ela percebeu que ele também lá trabalhara e que fora lá que nos conhecemos. Disse-lhe, por entre a conversa que foi das melhores coisas que 'trouxe' da sapataria ao que ela nos felicitou e desejou tudo de melhor.
No ano que lá estive decorei muitas caras, de muitos clientes. Claro que algumas, me ficaram gravadas na memória com maior intensidade e esta senhora foi uma delas. Porquê? Porque tenho um grande defeito que é ser também consumidora e então, não fui capaz de ver a injustiça que acontecera com aquela cliente e tive que intervir em defesa dela. Já tinha sido atendida por três colegas minhas e nenhuma lhe resolvera o assunto, empatando sempre a senhora uma e outra semana até que deu de caras comigo e a situação ficou resolvida quase na hora.
Voltando um pouco atrás, e para avivar a memória, os meus problemas naquela empresa só começaram quando se tornou pública a minha relação com o Doce, porque era proibido - só que não, nada disso dizia no meu contrato nem fora mencionado em altura alguma! Claro que depois disso, foi sempre a descer até ao dia em que não aguentei mais a falta de respeito e me demiti.
Entretanto despedi-me da senhora. Agradeceu me novamente pela situação que nos tornou conhecidas e foi cada um à sua vida. Mais uma vez, fiquei de coração cheio. Na altura fui contra a empresa e muito criticada por isso, mas fiz o que estava ao meu alcance para resolver o assunto a uma cliente que tinha total razão e assim mantê-la, porque graças a isso, ainda hoje compra lá.
(Nunca antes mencionei o motivo pelo qual me demiti. Houve muitas razões para isso acontecer, uma delas foi eu não saber bem como, mas a minha antiga patroa saber da existência deste blog e me ter ameaçado mais que uma vez com um processo sobre difamação da empresa. Por isso também, nunca disse nomes de colegas, de localização de lojas ou mesmo o nome da sapataria em si. Claro que quem me conhece 'na vida real' sabe qual é, mas assim, estou salvaguardada não vá o diabo tecê-las.)
Hoje é o meu último dia de trabalho. O penúltimo dia desta minha estadia na Alemanha (voo na madrugada de Domingo). Praticamente a chegar o fim de uma experiência com pouco mais de dois meses. Dois meses que foram tão longos mas ao mesmo tempo tão na medida certa.
Como em todas as experiências na vida, cresci. Um bocadinho como pessoa, bastante como mulher. Aprendi tanto mas ao mesmo tempo aprendi tão pouco... Experimentei sentimentos e sensações que sempre estiveram visíveis e eu recusei durante anos aceitar. Travei conflitos com coisas perfeitamente desnecessárias que estavam escondidas mas que eu quis procurar. Precisei de remexer no passado, lavar toda a roupa suja que tinha a lavar e sair de cabeça erguida.
Lamento a forma como vou, principalmente do trabalho. Custa-me, apesar de pouco tempo, o que fiz ao meu patrão. Aquele homem foi impecável comigo, em todos os sentidos. Deu-me férias quando não tinha direito a elas, esteve sempre disponível a ouvir-me e nunca se impôs a nenhuma das minhas decisões pessoais. Pintaram-me o homem como sendo o diabo, mas nunca eu tal vi. Quem mo pintou também não é santo, e nunca saberá o que é receber elogios pelo trabalho bem feito. (Isto porque ontem foram entregar-me a rescisão do contrato e entre muita conversa foi-me dita uma daquelas verdades incontestáveis que só se dizem quando são 100% verdadeiras porque nada se ganha em mentir. Foi-me dito que nunca aquela escola esteve tão bem limpa como durante os dois meses que eu ali trabalhei. Apesar de não ser o trabalho de sonho de uma rapariga de vinte e um anos, não posso deixar de me sentir orgulhosa e mais uma vez agradecer à maravilhosa mãe que tenho por todas as ferramentas que me deu na vida!)
Hoje é também dia de tratar da burocracia. Cancelar tudo o que respeita a legalização, ver se não deixo pontas soltas para depois o fisco não correr atrás de mim! Amanhã, é dia de fazer as malas e abastecer-me de tudo o que é doce para levar a quem me espera na outra ponta da Europa!
Respirar fundo e deixar a poeira assentar. Recomeçar, naquele que será sempre o meu país
... a derradeira conversa já aconteceu. E correu melhor do que aquilo que eu esperava.
Depois de algumas tentativas lá consegui falar com o meu patrão. Não lhe expliquei exatamente os motivos da minha decisão, apenas lhe expus a minha vontade. Ele cedeu, sem reclamar nem dizer nada de mais. Disse que lamentava a minha ida, mas que respeitava.
Não tenho ainda dia certo, mas certo é que em Abril já estarei em Portugal.
Quase sem dar por ela já lá vão dois anos, 731 dias disto.
Desejo antigo que a preguiça nunca me tinha deixado concretizar. A 3 de Março de 2015, um dia em que o sol me entrava pela janela, disse para mim mesma que estava na altura e finalmente, aderi a esta plataforma maravilhosa onde tenho sido tratada com imenso carinho.
Durante todo este período passei por fases bastantes diferentes da minha vida. Algumas traduziram-se em ausências e outras em presença constante. Foram chegando novos utilizadores, criados novos blogues, novos seguidores, novas descobertas e novas alegrias. Houve porém também desistências, blogues que seguia desde os primórdios e que pura e simplesmente desapareceram sem nunca virmos a saber os porquês.
Partilhei convosco a, pensava eu, melhor experiência da minha vida. Mudei-me para Londres, aos 19 anos, para ingressar na universidade num curso que eu pensava amar mais que tudo. Desisti depois de trinta longos dias, marcados pelo choro constante e pelo grande sofrimento interior. Houve palpites e julgamentos de todo o lado, de todo o tipo. De pessoas que eu já esperava e de outras que me apanharam completamente desprevenida. Hoje, é um assunto que parece nunca ter existido. Caí numa espiral auto-destrutiva da qual a minha mãe fez muita força para me tirar. Fui obrigada a sair de casa e a fazer algo de útil para a minha vida. Acabei assim, a entregar currículos e trabalhar na sapataria onde permaneci um ano. As melhores coisas que trouxe desse trabalho foram, para além da experiência, a consciência do que tolero ou não a uma entidade patronal e claro, o meu Doce! Despedi-me e decidi começar 2017 no estrangeiro. Os planos iniciais saíram um pouco furados e cheguei à conclusão que, apesar de existirem muitas coisas boas, não é uma opção de vida compensatória para mim nem para o meu futuro.
Ao longo destes dois anos, o balanço que faço é positivo. Tenho conseguido nestes últimos meses dedicar mais tempo ao meu cantinho, coisa se te tem traduzido em comentários, novos seguidores e visualizações. Durante a existência, fui destacada por duas vezes, nos primeiros meses pelo voluntariado e recentemente pelo desabafo. O post que mais comentários reuniu foi relacionado com a empresa que me 'levou' para Londres e a paixão da minha vida. Atingi recentemente o pico de visitas e visualizações com o segundo destaque. Tenho três rubricas ativas: Aquele momento em que... , Doçuras e Viver na Alemanha. Fazem parte do meu espaço 45 seguidores, um terço dos quais se juntaram nos últimos meses. Não sou uma bloguer de sucesso. Mas estou muito feliz e satisfeita com o resultado atual e com a evolução feita.
Obrigada a todos os que estão desse lado e tornam tudo isto possível: à equipa Sapo, aos leitores diários, aos ocasionais, a todos os que passam por aqui de lés a lés. Quanto a ti, querido blog, espero que continues a existir e a acompanhar todas as pequenas conquistas da vida desta jovem que sonha mais do que aquilo que deve. Desejo que continues a crescer por muitos mais anos!