Estive a fazer uma pequena pesquisa aqui pelo blog para perceber exatamente onde tinha parado de vos falar com detalhe da minha vida e das minhas pessoas / ocupações. Percebi que já foi há algum tempo, nomeadamente depois de o meu anonimato ter sido novamente descoberto e me ter deixado domar pela procrastinação, cuja culpa vou atribuir ao bichinho Covid que fez parecer que estes dois anos, foram apenas dois longos e intermináveis dias.
Da última vez que elaborei minimamente um post, deixei no ar a ideia que muitas coisas já tinham mudado na minha vida. E mudaram, efetivamente. (E já voltaram a mudar, mas fica para as cenas dos próximos episódios ). Bom... Reencontrei dois amores que, como diz o Marco Paulo, "em nada são iguais". Hoje vou falar-vos de um deles: o meu Euromilhões, o P.
O P. não apareceu na minha vida por acaso. Já nos conhecíamos. Trabalhámos juntos em dois mil e troca o passo, quando decidi parar o meu percurso académico durante um ano, de modo a juntar algum dinheiro para a aventura que se seguia, Londres (desfecho esse que já todos sabemos).
A nossa dinâmica era incrível e fazíamos uma equipa do caraças! A determinado ponto, acabei por ficar de beicinho mas ele, não me ligou nenhuma. Até que... O mundo nos traz a pandemia. E num aborrecimento pegado, ele responde a uma história minha no Instagram. Confesso que inicialmente, não achei piada nenhuma. Foi muito avassalador e a abordagem um tanto que brusca - falou para mim com a mesma confiança que tínhamos de há cinco anos antes e a minha vida, que acabara de dar uma grande volta, não lidou bem com tal investida.
Depois de algumas conversas a atualização mútua dos últimos anos das nossas vidas, combinámos um café para assim que o mundo ficasse minimamente normal. Aconteceu no verão de 2020. Fui uma chata e vomitei a minha vida sentimental e laboral quase toda e o pobre coitado ouviu e calou-se. Nunca mais me liga - pensei eu, mas não me podia ter enganado mais.
As conversas tornaram-se regulares, o conteúdo passou efetivamente a ser conteúdo e comecei a apreciar a companhia daquele ser, do sexo masculino. Até que ele torna claro o interesse em mim... Sai demónio! Não quero nada disso na minha vida agora, tudo menos isso! E desliguei.
Conversa puxa conversa e entre amigas, uma pessoa vai falando. Até que naquele primeiro jantar, o tão esperado reencontro e retoma de vida social no verão de 2021, uma delas, comenta à boca cheia depois de o ver que "Se não queres tu, quero eu!". Sem prensar, respondi prontamente que vi primeiro! E depois dessa avaria, fiquei a remoer no assunto até perceber o porquê.
Percebi eventualmente e decidi dar a mão à palmatória, juntamente com uma oportunidade ao moço. E acreditem que não poderia ter tomado melhor decisão ou feito qualquer outra escolha. Sem dúvida, que ele é a chave do Euromilhões que eu sempre quis ganhar.
Há mês e meio, pela altura em que a prevenção de tornou mais rígida e que fiquei em casa em regime de layoff como milhares de pessoas, pensei para com os meus botões que "É agora! Vais voltar ao blog em força, pôr as tuas histórias, vivências, tudo isso em dia. Vais agarrar naquele curso online parado há meses e acaba-lo. Vais ler, ver aquela lista interminável de filmes que só aumenta, vais dedicar te a ti!". Pois é... 52 dias depois, não fiz quase nada disto.
Nas primeiras semanas confesso que consegui. Todos os dias estudava/aperfeiçoava entre uma a duas horas de uma língua estrangeira. Comia em condições, fazia as minhas aulas de ginásio dia-sim-dia-não, arrumei e limpei a casa a fundo e tive cinquenta mil ideias novas de redecoração. Fiz planos e orçamentos que ando doida para colocar em prática. Dar um ar novo a esta casa.
Apesar de não me sentir desmotivada, acho que o estou. Estou porque me tenho rendido ao fácil e a minha vida tem se resumido a Netflix de manhã à noite, de Domingo a qualquer que seja o dia da semana em que estamos. Chego ao ponto de me doer o rabo de tanto tempo passar sentada. É irónico, não? E a despensa? Essa inimiga silenciosa, hã?! Nunca pensei que se iria tornar a divisão mais frequentada da casa nesta quarentena que terminará com a ruína do trabalho de ginásio dos últimos dois anos! E doces? Sabem lá a quantidade de chocolates que tenho comido? Deus, já nem me lembrava do que era esta necessidade de doces... Ai, ai Sweetener!
Queixamos-nos de falta de tempo ou de tempo a mais. Mas neste tempo a mais, que tínhamos tanto que fazer, damos por nós a não fazer quase nada. A minha vida pré-quarentena era preenchida. Uns 97% talvez. Trabalho (regra geral) das 9h às 18h, formação até às 23h dois dias por semana, ginásio nos outros três, noite de sábado para descansar e Domingo para arrumar a casa e abastecer a despensa. E não sei se é por viver sozinha e não ter que prestar contas a ninguém mas céus, como eu andava feliz pela minha falta de tempo! E raramente me queixava dela! (Vá, só quando queria ir ao médico, lavar o carro ou a serviços que não conseguia pelos meus horários). Sinto falta de não ter tempo para relaxar, agora que forçadamente tenho tanto.
Hoje parece que se recupera um pouco de normalidade. Alguns serviços vão retomar, uns com horários reduzidos outros com bastantes regras e recomendações. O uso de máscara passa finalmente a obrigatório (Aleluia!). Eu cá, continuo por casa, à espera de novas ordens. A espera é que é o terrível da coisa e eu ando com tanto receio de ser dispensada... Mas bom, o pensamento deve tem que ser sempre positivo e venha o que vier, é porque tem que ser!
O que esta quarentena trouxe de bom, foi manter quase tudo exatamente como estava. O que não manteve, melhorou. Foi neste mês e meio que se viu quem se importa e quem manda mensagem a quem. Quem liga só para dizer que está ali e quem te faz fazer diretas e ficar meio dia ao telemóvel a falar sabe-se-lá sobre quê. São estas pessoas, as que fizeram com que a distância física fosse relativa que temos que manter por perto e estimar. E abraçar, assim que o possamos! Sou uma abençoada e estou tão grata à vida, por tudo o que me tirou e trouxe. Percebo agora que realmente foi no tempo certo. E porque estes raios de sol que me batem na cara agora me estão a fazer sorrir, sorriam também. Sejam gratos e acreditem que quase tudo, vai ficar bem!
Ando há alguns meses para fazer este post. A ser correta, há meses que ando para fazer uma carrada deles mas entre a preguiça e a falta de tempo, a vida tem-me levado a melhor.
2019 foi um ano bastante longo. Um ano de mudanças, dúvidas mas de tantas certezas ao mesmo tempo. Um ano em que o desemprego entrou numa relação comigo e eu saí da relação que tinha. Foi o ano em que fiz a minha primeira viagem acompanhada além fronteiras. Um ano, em que os estudos me voltaram a fazer olhinhos e que eu me deixei seduzir por eles. Um ano que me trouxe pessoas e situações que me fizeram crescer tanto, em termos intrinsecamente emocionais.
E cresci, oh se cresci. A maior prova disso foi ter sido finalmente capaz de trocar um amor por uma amizade, com tudo o que isso acarretava. Qual é o propósito de uma relação se não caminhamos para o mesmo lado? Qual é o propósito se a base, que devia ser o amor, não está lá há imenso tempo? Chegámos a questionar-nos se alguma vez esteve sequer... E acho que essa, será de todas a pergunta mais difícil e que ficará eternamente por responder.
Estava longe de imaginar tudo o que voltar a estudar me iria trazer. A anos-luz, para ser mais precisa. Trouxe-me pessoas, tão simples que nos acrescentam tanto. Que não precisam de ser de um extrato social superior para nos dar as maiores lições das nossas vidas. Obrigada a ti A., que mesmo sem saberes me amparaste. Me deste luz e esperança e me fizeste ter a coragem suficiente para dar a volta que eu tanto desesperava por dar à minha vida. Obrigada a ti Sr. Razão por me trazeres de volta e obrigada à vida por te ter colocado novamente no meu caminho. Obrigada por me acordares e fazeres ver que afinal estou viva e bem viva. Obrigada por me fazeres acreditar que tenho valor e que não podemos mudar a nossa essência só porque atravessamos uma tempestade. Que mais cedo ou mais tarde, o sol voltará a brilhar. E acredita, ele brilha.
Obrigada, por terem entrado e retornado, respetivamente, à minha vida sem bilhete de volta. E que nunca se arrependam, de não ter comprado a maldita viagem de regresso