... vou em pé no autocarro e um menino pergunta se me quero sentar.
Fiquei derretida. Não aceitei, pelas razões lógicas. Mas agradeci e sorri. Vim feliz para casa. Feliz porque afinal ainda existem. Ainda existem crianças com pais que sabem educar
Espero que todos tenham tido uma boa Páscoa! Com doces q.b. e muita animação familiar.
Isto leva-nos ao tradicional almoço de Domingo, seguido da visita pascal. É por hábito ter para a mesma, uma mesa com uma jarra de flores, uma laranja, um folar ou são bento e um envelope com a côngrua. Quando finalmente chega a hora do "Cristo ressuscitou. Aleluia. Aleluia" entram pela casa, normalmente 4 pessoas: o padre (ou substituto), o senhor que carrega a cruz, o que traz o sino e o que levanta a côngrua. (Todos sabem o que é a côngrua, certo?). Na aldeia dos meus avós os filhos destes respetivos senhores costumam vir a acompanhar a "procissão". Ontem, quando chegou a nossa vez, uma das meninas entra, vai direta à mesa e diz:
- Pai, aqui não há envelope!
O pai rapidamente a ajuda a "procurar" o dito cujo e lá percebem que sim, há envelope.
Uns riram-se pela audácia da miúda, outros, como eu, pensam no que se está a ensinar às crianças e em como a igreja católica infelizmente se tornou um negócio...
(Não me batam por esta última linha que escrevi. É a minha opinião)
... constato com os meus colegas em como fomos crianças felizes!
Em como nos enchia o peito saltar nos sacos de batatas, arrancar cenouras e ficar com a rama na mão, andar em baloiços feitos de pneus ou partes de mangueiras pendurados em árvores. Correr descalços pelos regos da água durante as regas e ouvir a avó a ralhar. E tantas, tantas outras!
O que é que as crianças têm hoje? Tecnologia. Tecnologia e mais tecnologia.
E sabem o que dói mais? É quando estes assuntos vêm à conversa, os miúdos olharem para nós e acharem que somos extraterrestres por termos sido felizes com tais coisas...
Tenho que expressar aqui a minha fúria. Ou espécie de.
Fui a uma superfície comercial, que tem uma maravilha de secção de coisas a vulso. Admito aqui que todos os super e hipermercados deviam ter - e de perferência, não só para gomas e doces.
E falando em gomas. Estava uma mãe, com seu filho exatamente nessa secção. Escolhiam, e escolhiam, até que consegui perceber o que estavam efetivamente a fazer. Estavam a comer, meus senhores. Sim, a comer! A mãe tirava as gomas da caixa e comia, perante o olhar atento da criança com os seus 3 anos no máximo. A mesma, incentivou a criança a comer também que sobre o olhar atento em volta, claro, lá acabou por o fazer.
Uau, digo-vos. Nunca pensei ver coisa assim. Bem sei que estamos a avançar em todos os campos de inovação e a retroceder nas coisas mais básicas mas caramba... Isto sim, é educação!
Como podem esperar algo de bom destas crianças no futuro? Como podem esperar que sejam educadas, que aguardem a sua vez nas filas, que peçam se faz favor e desculpa, que não roubem? Se é permitido comer gomas num supermercado sem pagar, que mais não poderão fazer?
Devíamos ter vergonha. Vergonha daquilo que andamos a ensinar.
Ontem foi tema de conversa o momento épico de furar as orelhas.
Aqui a peste fazia das suas para ser obrigada a tirar os brincos. Deviam fazer-me alergia ou o raio que eu não aguentava muito tempo sem fazer alguma. Furaram me as orelhas três vezes. A última, pelos meus 6 anos quando fiz um valente dói dói. Um dói dói a sério. Caí na escola e rasguei a orelha, a primeira e mais velha cicatriz que trago no corpo. Como a minha mãe achou que só um brinco não tinha piada, tirou me o outro, acabando os buracos por fechar.
Numa vinda a Portugal, a minha mãe decidiu furar-me as orelhas novamente. Eu, que já sabia o quanto custava e comecei a fazer daquelas birras fáceis de aturar. Sem mais opção, disseram que, caso não chorasse, teria direito a um Cornetto de morango. Têm a noção do que significava um Cornetto há quinze anos para mim?! Era o Céu! A menina lá foi e o primeiro furo aguentou. Mas ao segundo, deu-se um gemidozinho e ficou-se cheia de medo de já não receber o dito.
Mas a mamã achou que me portei bem e lá me comprou a recompensa!