Acho que nunca foi surpresa por aqui o facto de raramente falar do meu pai. Pai... Será que posso sequer chamar-lhe isso...? Já houve tanta volta nesta relação que devia ser das mais fortes. Há muita (ou talvez nem seja assim tanta) história. Os muitos e diferentes sentimentos, de diferentes dimensões neste capítulo da minha vida. Porque na verdade, eu já tive um pai.
Nos meus primeiros anos, tive aquilo a que se chama pai. Ele dava-se ao trabalho de o ser. Fazia por ter tempo para brincar comigo, preocupava-se e era uma pessoa muito atenta, talvez até a mais atenta. Queria acompanhar todos os meu sucessos mas também confortar-me nos meus fracassos. A minha irmã também fazia parte da cena, mas sendo mais nova, acho que nunca absorveu tantas memórias boas como eu. Talvez seja por isso que me custa mais aceitar. Custa, custou durante todos estes anos e continua a fazer me uma enorme confusão. Sempre que ele fazia alguma coisa bem, compensava com quatro ou cinco erradas. Porque será que isto acontecia? Se era meu pai, não seria suposto amar-me mais que tudo? Não seria suposto ter orgulho nas filhas que tinha? Não seria suposto comportar-se, como se comporta a minha mãe?
Tudo começou a mudar quando a família de mudou para Portugal. Para além de ter deixado de ser marido, deixou também de ser pai. Como consequência, pouco tempo depois chegou o divórcio. Divórcio este que também incluiu as filhas. (Isto para não falar em toda a família da parte dele, que foi pelo mesmo caminho). Durante anos, a minha mãe incentivou a aproximação. Quantas não foram as vezes que aquela mulher insistiu para lhe ligar-mos, para falar com ele. E nós, liga-mos. Mais que uma vez, mais que duas. Um almoço aqui, um lanche ali, encontros meramente esporádicos, de conhecidos, mas nunca das pessoas que éramos na verdade.
É estranho, sabem? Saber que aquela determinada pessoa deveria ser nosso pai e termos sentimentos por ela mas existir só um vazio. Uma ausência de sentimento. E tantas vezes me culpei por isso, tantas vezes me chamei os piores nomes apenas por ter estes pensamentos.
Continuei a tentar. Ele não ligava, ligava eu. Ele não perguntava como eu estava, perguntava eu. De certa forma, forcei a relação. Porque eu queria que houvesse relação. Mas depois de tantos anos, não seria ingenuidade da minha parte? Não deveria saber já que tal não era possível?
A derradeira tentativa, foi esta: vir morar com ele e com a companheira atual. Numa altura em que me desempreguei, nem cheguei a procurar trabalho porque decidi que queria saber daquilo que eu própria era capaz. Libertar me das amarras do que acontecera na Inglaterra, ter a certeza que a relação em que estou tem futuro (Resultou! A distância fez-nos bem e estamos mais unidos que nunca!), saber como era, depois de tantos anos, voltar a conviver e viver com o meu pai.
Na primeira semana correu tudo bem, em todos os sentidos. Cheguei a acreditar que era possível resolver anos de ausências, de desilusões, de expectativas furadas. Dois meses depois, é me mais que óbvio que isto não resultou. Pelo menos não da forma que planeei. Estou a viver literalmente num campo de batalha, e eu sou claramente o alvo a eliminar. Ele - morde pela calada. Na minha frente é tudo uma delícia, por traz julga-me por todo o meu presente, passado e quaisquer ideias de futuro. Ela, nem sei bem o que dizer. Nunca quis acreditar naquela história de que as madrastas são 'más' mas não restam muitas dúvidas aqui... Tenho me esforçado imenso mas não consigo entender o objetivo inicial deles. Se não me queriam cá, porque me incentivaram a vir, me prometeram mundos e fundos, até para o Doce, e logo a seguir me dão um pontapé no rabo?
Custou-me tomar a decisão mas não aguento mais o clima aqui vivido. A constante falta de entre-ajuda, as conversas altas propositadas para eu ouvir, as constantes piadas e indiretas. Já estive suficientemente perto de uma depressão para me oferecer voluntariamente a uma recaída.
No próximo Domingo é dia do pai. Pai... Será que posso sequer chamar-lhe isso? Sinto que finalmente tenho a resposta. Não posso chamar pai a alguém que há muitos anos não o é. Parece-me também injusto felicitar ou presentear alguém num dia dedicado às pessoas que se preocupam verdadeiramente com os filhos. Ele não representa praticamente nada na minha vida, nem na da minha irmã. Por isso, para mim, este Domingo será apenas mais um Domingo.
Quase sem dar por ela já lá vão dois anos, 731 dias disto.
Desejo antigo que a preguiça nunca me tinha deixado concretizar. A 3 de Março de 2015, um dia em que o sol me entrava pela janela, disse para mim mesma que estava na altura e finalmente, aderi a esta plataforma maravilhosa onde tenho sido tratada com imenso carinho.
Durante todo este período passei por fases bastantes diferentes da minha vida. Algumas traduziram-se em ausências e outras em presença constante. Foram chegando novos utilizadores, criados novos blogues, novos seguidores, novas descobertas e novas alegrias. Houve porém também desistências, blogues que seguia desde os primórdios e que pura e simplesmente desapareceram sem nunca virmos a saber os porquês.
Partilhei convosco a, pensava eu, melhor experiência da minha vida. Mudei-me para Londres, aos 19 anos, para ingressar na universidade num curso que eu pensava amar mais que tudo. Desisti depois de trinta longos dias, marcados pelo choro constante e pelo grande sofrimento interior. Houve palpites e julgamentos de todo o lado, de todo o tipo. De pessoas que eu já esperava e de outras que me apanharam completamente desprevenida. Hoje, é um assunto que parece nunca ter existido. Caí numa espiral auto-destrutiva da qual a minha mãe fez muita força para me tirar. Fui obrigada a sair de casa e a fazer algo de útil para a minha vida. Acabei assim, a entregar currículos e trabalhar na sapataria onde permaneci um ano. As melhores coisas que trouxe desse trabalho foram, para além da experiência, a consciência do que tolero ou não a uma entidade patronal e claro, o meu Doce! Despedi-me e decidi começar 2017 no estrangeiro. Os planos iniciais saíram um pouco furados e cheguei à conclusão que, apesar de existirem muitas coisas boas, não é uma opção de vida compensatória para mim nem para o meu futuro.
Ao longo destes dois anos, o balanço que faço é positivo. Tenho conseguido nestes últimos meses dedicar mais tempo ao meu cantinho, coisa se te tem traduzido em comentários, novos seguidores e visualizações. Durante a existência, fui destacada por duas vezes, nos primeiros meses pelo voluntariado e recentemente pelo desabafo. O post que mais comentários reuniu foi relacionado com a empresa que me 'levou' para Londres e a paixão da minha vida. Atingi recentemente o pico de visitas e visualizações com o segundo destaque. Tenho três rubricas ativas: Aquele momento em que... , Doçuras e Viver na Alemanha. Fazem parte do meu espaço 45 seguidores, um terço dos quais se juntaram nos últimos meses. Não sou uma bloguer de sucesso. Mas estou muito feliz e satisfeita com o resultado atual e com a evolução feita.
Obrigada a todos os que estão desse lado e tornam tudo isto possível: à equipa Sapo, aos leitores diários, aos ocasionais, a todos os que passam por aqui de lés a lés. Quanto a ti, querido blog, espero que continues a existir e a acompanhar todas as pequenas conquistas da vida desta jovem que sonha mais do que aquilo que deve. Desejo que continues a crescer por muitos mais anos!
... pondo tudo em perspetiva, percebo que me andei a enganar durante anos e anos em relação a algumas coisas e também a algumas pessoas. É triste chegar a esta conclusão, sabem?
Um mês além fronteiras. Longe dos meus amores, da minha família, da minha casa, da minha cama, das minhas ruas, dos meus lugares... De todas as coisas que me faziam tão feliz e agora fazem tanta mas tanta falta... A curiosidade de tentar, de experimentar coisas novas, o facto de estar desempregada, ter aqui quem me desse a mão, tudo isso foram fatores que me fizeram vir. O plano era ver o que achava e caso me agradasse, trazer o Doce começar a nossa vida aqui.
Vendo bem as coisas, as conclusões a que cheguei são:
1. As casas têm imensas condições de aquecimento. Mas custam um balúrdio.
2. As pessoas vivem as suas próprias vidas. Mas há sempre um português a meter o nariz.
3. A rede de transportes é o que mais me fascina. Mas a condução para mim, tem outro encanto!
4. Os ordenados parecem excelentes, mas avaliando todas as despesas vai dar ela por ela.
E como disse anteriormente, se não for para se poupar, porquê sair de ao pé dos nossos...?
5. De que me serve ter o fim-de-semana livre, se não tenho com quem o passar?
Mesmo futuramente com o Doce, mãe é mãe, e todos sabem o que ela significa na minha vida.
6. Há coisas que nunca vão mudar, e eu tenho teimado em não aceitar isso, e tentado mudar as coisas mas já me cansei de o fazer e por isso, está na altura de um ponto final.
Mesmo assim, vou fazer um esforço e cumprir o contrato que assinei.
São seis meses, e um já lá vai. Só faltam cinco. Já só faltam cinco...
Sabem o que me está a fazer bastante falta aqui? Conduzir.
Sentir o prazer da condução (apesar de não ter carro próprio), o ligar o rádio e ir para o meu destino. Sinto falta de ir aqui e ali, de ir no meu horário, quando quero, como quero. Sinto falta de disparatar ao constatar o preço da gasolina, falta do stress permanente que é conduzir. Falta de ofender e ser ofendida, falta de mandar umas buzinadelas a condutores parvalhões. Falta de protestar por uma manobra mal feita e ser mal tratada em pleno exercício da condução.
Coisas tão banais, e é onde mais noto a falta que Viseu me está a fazer.