Na sapataria adquirimos recentemente um outro tipo de livro, para complemento do de reclamações: o de elogios. Funciona da mesma forma: identificação da pessoa que elogia e da que vai ser elogiada, o elogio em si, a assinatura e uma cópia para o cliente se assim o quiser.
Creio que quase todas as colegas de loja já tiveram elogios. Eu, pelo menos, tenho 4 até à data. Dois deles que simplesmente dizem que a funcionária foi simpática e atenciosa, outros dois que foram verdadeiros elogios, com um bonito palavriado e um deles, feito à frente do meu patrão.
Faço o meu trabalho o melhor que sei. Tento manter sempre a simpatia e sobretudo a boa educação. Se há clientes que me irritam de vez em quando? Há. Se há dias em que me apetece fugir para longe desta gente doida? Há. Se há dias em que alguns cliente merecem respostas à letra? Há. Mas somos só funcionárias, e pelo senso comum: temos que ouvir e calar.
Faz praticamente dois meses que estou a trabalhar na sapataria. Com tudo isso, conheci pessoas novas que mantêm uma distância de segurança enorme: não passam nem vão passar de colegas, novos sítios - atendendo à localização de algumas lojas e até clientes muito pouco divertidos. Poderia dizer que era da época que estamos a viver, mas acho que não. É mesmo estupidez pura. E como vou ouvindo umas pérolas de vez em quando, acho que vou presentear-vos com elas.
A de hoje, foi de ontem. Uma família numerosa (8 pessoas) numa sapataria pequena, sem contar com uns quantos outros clientes, decide o homem da casa (aparentemente) que quer comprar umas botas. Ok, vamos lá mostrar uns modelos ao senhor. Nisto, enquanto ele exprimenta, pergunto:
- Então, como se sente com elas? Gosta?
- Gostar gosto, mas gostava mais da menina vestida de mãe natal em minha casa.
Mulher, filhas e restantes rieem-se. Eu, como não percebi a piada, e para não dar ar de mal educada fui simpatica e sorridentemente atender outro cliente. Será isto normal? Acho que não, mas vai ser sempre assim.