Nem tinha a real noção da última vez que tinha vindo até aqui. Sabia que fora algures pelo final do ano mas só agora me apercebo que se passaram praticamente quatro meses.
Quatro meses em que muita coisa aconteceu e mudou na minha vida. E sinto-me abençoada por poder dizer que quase tudo foram coisas boas. Tenho a certeza que com o devido tempo, voltarei a ser mais ativa por cá. Tive intenção e sobretudo necessidade de fazer uma pausa mas falhei ao não vos comunicar isso. Daí e por isso, lamento imenso e peço-vos desculpa.
Sinto-me renovada física e intelectualmente. Têm sido meses de trabalho interior, meses em que surgiram novas rotinas, novas pessoas e mais importante que tudo, novos desafios.
Digo, com alegria que já me encontro a trabalhar. Esta é, uma das melhores mudanças que o mês de Janeiro me trouxe. Sou rececionista numa clínica dentária, no coração da minha cidade. Uma experiência nova e totalmente diferente. Uma área desafiante onde existem ainda 'demasiadas' coisas para aprender. Um contrato de um ano, uma equipa (até ver) agradável e sem dúvida, uma vontade enorme de ser bem sucedida neste novo desafio.
Tendo em consideração a pandemia que vivemos, finalmente levada a sério, eu, como pessoa que tem contacto direto com muitas pessoas e com profissionais de saúde, estou desde sábado em casa, sossegada, a aproveitar o tempo para colocar tanta coisa em dia.
Espero que esteja tudo bem com todos desse lado. E reforçando a mensagem já tão aclamada: Façam por ficar em casa, pelo bem de todos. Beijinhos e força
Hoje, véspera de feriado, faz um ano que eu e o Doce juntámos os trapinhos.
Estes 365 dias têm sido uma aventura e uma prova constante. A decisão, ainda que precipitada, de irmos morar juntos tornou-se das melhores decisões da minha vida. Era um dos passos que mais queria, (pela independência que isso nos traz) mas que ao mesmo tempo mais receava.
Houve uma redução drástica nas saídas, nas extravagâncias e nos passeios a dois. As consequências da nossa decisão ficaram à vista. Por vezes, chegámos a ponderar voltar para casa dos pais mas demos a volta e mesmo com dificuldades, ainda cá estamos.
O meu desemprego veio abalar ainda mais as coisas. Tinha já definidos os objetivos, o fim dos créditos e finalmente um alívio financeiro. Infelizmente, pregaram-me uma partida. Partida essa que me levou a voltar a estudar e que até agora me mantém ocupada e consideravelmente feliz.
Costumo dizer, ainda que em brincadeira, que faço com o dinheiro o mesmo que Jesus fez com o pão e a sardinha. Descobri uma faceta ainda mais capaz do que aquela que já sabia ter. Tenho orgulho em mim. Em nós. E na educação que recebi (Obrigada mãe!).
Não vou dizer que não tenho dias em que desespero, em que não choro porque não posso comprar uma peça de roupa ou jogar uma mísera chave de euromilhões. Mas tento sempre lembrar-me que as contas, essas estão em dia. E que no final, isso é que é importante!
Um ano, Doce. Um ano da nossa casinha, com quase tudo o que queremos. Um ano de superação, um ano de batalhas vencidas. Mais estarão para vir, é certo. Mas se continuarmos juntos, podemos tudo! Vamos olhar para trás e sorrir a todos os que nos disseram que não éramos capazes. Porque fomos. Porque somos!
Eram 8h de sábado quando o Doce me acordou de sobressalto. Fiquei em alarme e depois de acordar, lá atendi. Ouvi o do outro lado dizer que tinha encontrado três cachorrinhos abandonados na berma da estrada, lá numa aldeia que ele percorre em trabalho. Só percebi que ele iria trazê-los e que já falávamos. Ok, levantei me e tentei digerir a informação. Lá me preparei para que, assim que ele chegasse, víssemos qual o melhor a ser feito.
Ele chegou com a companhia e eu fiquei encantada. Três bolinhas de pêlo mal cheiroso e com nervos, mas aparentemente bem nutridos. Abandonados de fresco, quis eu acreditar.
Dirigimos nos à GNR e fomos informados que por ser fim de semana, nada podia ser feito e que os fofinhos iam ter que passar o mesmo na nossa companhia. Well, temos uma pequena marquise no apartamento. Para um fim de semana não será grande problema.
Chegados a casa, água foi a premissa. E tanta sede que eles tinham! Uma ida a correr ao minimercado, comprar ração e pronto, lá fui trabalhar. Entre fotos e vídeos, lá chega a hora de regressar a casa, onde vejo aquelas coisas lindas a dormir. "Vamos nós também", dizia eu. E eis que percebi que ia ser um fim de semana de loucos. Acordar de hora em hora, qual pais de primeira viagem! Percebemos no domingo que tanto choro se devia às dores que eles tinham ao defecar - eram mais lombrigas que cocó! Comprámos um desparasitante e tratá-mos do assunto.
Segunda feira, foi dia de ir ao Cantinho do Animais. Como sempre, a infame proprietária é uma jóia, que gosta tantos de pessoas como eu gosto de nabos. Informou nos que nada podia fazer e mandou nos para a Câmara Municipal. Já nesta, foi parecido. Todos a passarem a batata quente. Ninguém tinha resposabilidades. Vi-me obrigada a contactar a guarda e eles lá tornaram possível. Os pequenos, que tinham aproveitado a ida à rua dormiam que nem anjos.
15:05, a hora em que os senhores da recolha me ligaram. E inexplicavelmente, foi como se voltasse 3 anos atrás, naquele fatídico 21 de Setembro, em que percebi que andei um ano a preparar me e que em dois minutos desabou tudo. Não consegui evitar chorar desalmadamente. Corri à varanda, acordei os e fiz lhes festas. E estupidamente, não conseguia parar de soluçar. Desci e esperei, e eles chegaram. E como quem entrega mercadoria, dei-lhes o caixote.
Sei que eles são pequenos e de tão adoráveis, certamente serão adotados. Sei que fiz o que tinha de ser, porque não tinha condições para ter e criar três cães. Avisei o Doce mais que uma vez para não se afeiçoar e afinal, quem se afeiçoou mesmo sem perceber fui eu. Se antes acreditei estar a fazer uma boa ação, ao salvá-los agora sinto-me uma péssima pessoa por os ter entregue...
E como as palavras não conseguem dizer mais nada, fica aqui uma amostra das recorações e memórias deste fim de semana que foi sem dúvida diferente, e repleto de emoções:
... cantou-se até mais não. Entusiamei-me de tal maneira, como se tudo tivesse voltado ao normal e estivesse em minha casa, com as minhas Marias. Cheguei a perguntar ao meu pai se tinham seguro da casa, não fossem os vidros ceder aos meus encantos e eu ter que pagar alguma fatura...