Assisti hoje a uma situação no parque do supermercado que me deixou visivelmente incomodada. Não só pelo ato mas pela frieza que alguns animais racionais têm.
Todos nós já fomos abordados ou vimos pessoas pedintes. Sejam aqueles que só estão recetíveis a colher dinheiro como aqueles que têm verdadeiramente fome e aceitam tudo. Aqueles que só procuram uma moeda ou os que vendem o próprio trabalho traduzido em cestos.
Uma menina hoje, aparentemente da etnia cigana, com o pequeno à parte de estar muito mais bem tratada e com mais educação que a maioria, abordou imensas pessoas nesse parque de estacionamento. Não tenho por hábito dar dinheiro, porque acredito que se estas pessoas têm fome, é bens alimentares que devem receber e não valores monetários.
Vi a rapariga a abordar um senhor, que como quem afasta a peste, a mandou dar uma curva. Uma outra senhora que lhe fez praticamente o mesmo. Continuei a arrumar as minhas compras e tentei não olhar fixamente para ela não me abordar a mim. Então vejo que o primeiro sujeito arruma o carro, e nele, deixa uma bela quantidade de tabletes de chocolate. Pensei em falar mas quando o ia fazer, já a miúda ia em direção ao carro. 'Vai ficar com eles', pensei eu mas senti um imediato peso na consciência quando a vejo dirigir ao homem que antes a tratara como lixo. Pediu desculpa e disse que o senhor se havia esquecido daquilo no carro. Este animal (peço imensas desculpas) olha para ela de soslaio, arranca-lhas da mão e manda-a afastar-se.
Fiquei em choque eu e quase se certeza a pobre coitada que acreditou com a boa ação, arrecadar no mínimo um agradecimento. Mas nada, absolutamente nada mais que mau trato.
Olhei para o que trazia nos sacos e não tinha nada mais adequado que um par de iogurtes. Chamei a menina e ofereci-lhos. Elogiei-lhe a atitude e disse-lhe que não era muito, mas que se fosse alimentar. Os olhos da menina brilharam tanto que posso garantir-vos que lhos dei com o maior agrado possível. Agradeceu-me mais que uma vez e foi toda alegre juntar-se à, suponho eu, família. Deu me gosto e ao mesmo tempo pena ver a satisfação com que a rapariga pegou neles e me agradeceu piamente como se lhe tivesse dado um pedaço de ouro. Aquele sorriso inocente, foi o melhor agradecimento e a melhor chapada sem mão que ela me podia ter dado.
Julguei o livro pela capa e enganei-me redondamente...
Há bem pouco tempo, contei que tivemos a felicidade (?) da chegada de um novo membro cá em casa. Pois bem que, um mês e pouco depois, já podemos enumerar uma lista das coisas que foram totalmente destruídas pela rata adorada Mia. Atenção: eu adoro animais e este texto não quer minimamente dizer que lhe vá fazer mal! É meramente um desabafo para pessoas, que estando de fora, talvez me possam ajudar a dar a volta a este sentimento.
Consta que a gata não teve um início de vida fácil. Ok, compreendo e admito que até tenho alguma pena. Mas acho que, tendo ganho um lar, onde toda a gente a trata bem, lhe dá de comer e beber e até tem um 'irmão', não justifica nenhuma das atitudes que ela tem tido até agora.
Ninguém a apanha. Passamos o dia inteiro sem sequer a ver, sem saber se já saiu pelo apartamento fora ou se já concretizou a tentativa de fuga/suicídio e se atirou de vez da janela (Sim, já o tentou fazer. Nota: moro num 4º andar, 5º em altura porque há lojas no r/c).
Tentativas de aproximação. Falhadas, sempre. São gestos que levam sempre a um uivo e um bufar ameaçador, como se ao conseguir tocar-lhe, alguém a fossem estripar ou algo do género.
Destruidora. Volto a frisar que está connosco há um mês. Um mês e o balanço são 6 copos e uma garrafa de moscatel partida, porque achou piada a puxar a toalha com tudo ao chão. Duas molduras com coisas que eu e a minha irmã fizemos em pequenas. Almofadas das cadeiras desfeitas. Uma cortina da cozinha destruída, porque se pendura lá em peso. Duas blusas furadas porque é engraçado brincar com as mangas. Já para não falar que salta às mesas e bancadas da cozinha como se tudo fosse dela. Certamente há mais, mas a memória já me falha.
Porca. Sim, é mesmo porca ou até possa ser tarada neste caso. O Blacky quer brincar com ela e dá-lhe uma beijoca na fuça, e ela, sem mais demoras, deita-se de barriga ao ar, escachada até mais não, como quem diz - dá-me a beijoca mas é noutro sítio.
E eu ando aqui, com este sentimento negativo de quem pela primeira vez na vida, não gosta de um animal e é obrigada a conviver com ele. E não, não aceito que a idade e os iniciais maus tratos sirvam de desculpa para tudo. O Blacky é um santo! Em seis anos partiu um anjo de barro! Em seis anos, bufou-nos nas vezes em que o obrigamos a entrar na transportadora. Em seis anos, foi uma vez ao armário comer bacalhau! Em seis anos, deixa-nos brincar com ele e responde ao nome como se fosse um cão! Em seis anos, vê-nos a chorar e vem nos aconchegar!
Por isso, não aceito. Ela é assim e não é pelo passado. Ela é assim, porque é má por natureza.
Saí de casa para ir pagar uma fatura, e como não me apeteceu levar carteira, enfiei tudo para os bolsos. Dinheiro e telemóvel de um lado, chaves de casa e lenços do outro. Ia muito sossegada, já com o assunto resolvido, e tirei o telemóvel do bolso porque alguém me estava a ligar.
Entretanto, ouço berros...
- Oh menina, menina!
(Não deve ser para mim, penso eu e continuo na minha)
- Oh menina! Não o semeie que ele não nasce!
Quando meto as mãos ao bolso e dou conta, o Sr. já está a vir na minha direção, com uma nota de 10€ que eu deixei cair ao chão, aquando a retirada do telemóvel. Provavelmente, só daria conta quando chegasse a casa. Nunca saberia onde, quando nem se de facto os teria perdido!
Como disse anteriormente, na sexta fui à minha primeira entrevista desde o regresso. Ao meu primeiro processo de seleção, uma coisa que nem sabia o que ser.
À hora marcada lá cheguei. Estavam três pessoas, comigo quatro. Candidatas, eram só três: uma senhora com os seus quarenta anos, eu e uma rapariga com provavelmente mais um ou dois anos que eu, que achou por bem levar a mãe a uma entrevista de emprego. Pouco depois, fomos chamadas para uma sala onde nos entregaram umas folhas com testes de lógica. O momento em que a orientadora sai, foi o momento em que o recreio começou. Uma a dizer que tinha mais que fazer, a outra a dizer que tinha voltado à primária, ambas a dizerem que não estavam para aquilo, e eu, que me tentava concentrar, interrompida por elas que me picavam a entrar na onda. Como nem a cara da folha levantei, desistiram de me puxar e continuaram a festa sozinhas. Até que a senhora volta e pergunta simpaticamente o que se está a passar. A mais nova, diz arrogantemente que tem mais que fazer e que quer ir à entrevista e - passo a citar - bazar daqui. A outra, diz que não é nada e baixa-se numa aparente tentativa de concluir o exercício. De três, passámos a duas.
Entretanto houve uma troca de testes e recebi um teste de personalidade, enquanto que a outra senhora recebeu mais um de cálculo. Mais uns resmungares mas lá se calou. A orientadora volta e pede-lhe que a acompanhe, coisa que ela faz, mas não sem antes me desejar boa sorte para a entrevista e sair sorridente. Poucos segundos depois, a responsável volta e dá me mais um teste de cálculo. E se eu vos disser que já não me lembrava do quanto gostava de matemática?! Foi uma delícia ter um cronómetro e problemas matemáticos para resolver!
Chegou a minha vez e percebi que ia ser entrevistada pela senhora que nos orientou a sessão toda. Foi tudo muito básico, quis saber todo o meu historial laboral, os motivos de entrada e saída de cada trabalho, defeitos e qualidades e do resto tudo um pouco. Entretanto disse que a vaga que tinham para me oferecer (que pelos vistos não foi a mesma para todas) era trocando por miúdos trabalho de escritório. Papéis, papéis e mais papéis - tudo o que sempre quis!
Disseram que num prazo máximo de quinze dias seria chamada para a entrevista no verdadeiro contexto onde me seriam ditos horários, vencimentos e funções e que, quer positiva quer negativa, seria contactada com uma resposta.
No dia, vim cheia de espetativas. Agora, nem sei. Costuma dizer-se: que seja o que Deus quiser!