Quase sem dar por ela já lá vão dois anos, 731 dias disto.
Desejo antigo que a preguiça nunca me tinha deixado concretizar. A 3 de Março de 2015, um dia em que o sol me entrava pela janela, disse para mim mesma que estava na altura e finalmente, aderi a esta plataforma maravilhosa onde tenho sido tratada com imenso carinho.
Durante todo este período passei por fases bastantes diferentes da minha vida. Algumas traduziram-se em ausências e outras em presença constante. Foram chegando novos utilizadores, criados novos blogues, novos seguidores, novas descobertas e novas alegrias. Houve porém também desistências, blogues que seguia desde os primórdios e que pura e simplesmente desapareceram sem nunca virmos a saber os porquês.
Partilhei convosco a, pensava eu, melhor experiência da minha vida. Mudei-me para Londres, aos 19 anos, para ingressar na universidade num curso que eu pensava amar mais que tudo. Desisti depois de trinta longos dias, marcados pelo choro constante e pelo grande sofrimento interior. Houve palpites e julgamentos de todo o lado, de todo o tipo. De pessoas que eu já esperava e de outras que me apanharam completamente desprevenida. Hoje, é um assunto que parece nunca ter existido. Caí numa espiral auto-destrutiva da qual a minha mãe fez muita força para me tirar. Fui obrigada a sair de casa e a fazer algo de útil para a minha vida. Acabei assim, a entregar currículos e trabalhar na sapataria onde permaneci um ano. As melhores coisas que trouxe desse trabalho foram, para além da experiência, a consciência do que tolero ou não a uma entidade patronal e claro, o meu Doce! Despedi-me e decidi começar 2017 no estrangeiro. Os planos iniciais saíram um pouco furados e cheguei à conclusão que, apesar de existirem muitas coisas boas, não é uma opção de vida compensatória para mim nem para o meu futuro.
Ao longo destes dois anos, o balanço que faço é positivo. Tenho conseguido nestes últimos meses dedicar mais tempo ao meu cantinho, coisa se te tem traduzido em comentários, novos seguidores e visualizações. Durante a existência, fui destacada por duas vezes, nos primeiros meses pelo voluntariado e recentemente pelo desabafo. O post que mais comentários reuniu foi relacionado com a empresa que me 'levou' para Londres e a paixão da minha vida. Atingi recentemente o pico de visitas e visualizações com o segundo destaque. Tenho três rubricas ativas: Aquele momento em que... , Doçuras e Viver na Alemanha. Fazem parte do meu espaço 45 seguidores, um terço dos quais se juntaram nos últimos meses. Não sou uma bloguer de sucesso. Mas estou muito feliz e satisfeita com o resultado atual e com a evolução feita.
Obrigada a todos os que estão desse lado e tornam tudo isto possível: à equipa Sapo, aos leitores diários, aos ocasionais, a todos os que passam por aqui de lés a lés. Quanto a ti, querido blog, espero que continues a existir e a acompanhar todas as pequenas conquistas da vida desta jovem que sonha mais do que aquilo que deve. Desejo que continues a crescer por muitos mais anos!
Desde bem pequenas, que os nossos pais nos ensinaram todas aquelas regras básicas que estamos fartos de ouvir. Não manusear facas, não mexer no fogão sem adultos por perto, não ir nem falar com estranhos e sobretudo, não lhes abrir a porta.
Abrimos a porta, seja no prédio, seja no apartamento, umas duas vezes em cada trinta. Não só pelos ensinamentos prévios, mas pelo facto de o nosso intercomunicador ser bastante eficaz e nunca ouvirmos a resposta de quem se encontra do outro lado.
Contou-me a minha Maria mais nova, o que se tinha passado no serão de domingo, enquanto cá em casa se preparavam para jantar, e eu me encontrava a trabalhar. Tocaram à campainha, no apartamento. Diz a minha irmã que era uma criança, a pedir para cantar as Janeiras. Não sei porquê, e acho que nem ela própria sabe, mas abriu a porta. Foi então que se deparou não só com uma criança, como também com um homem adulto de raça negra, a fumar, com o maior dos descaramentos. A minha irmã diz que pensou em adverti-lo para o caso, mas sorriu para o miúdo, como eu provavelmente também teria feito. Quando foi a última vez que alguém falou em cantar as Janeiras?! E quando deu por ela, estava o homem debruçado na ombreira da porta, segundo ela, com aquela "cara depravada de pedófilo", passo a expressão, e o miúdo voltou a perguntar se podia cantar as Janeiras. Entretanto, o homem vira-se para ela e pergunta-lhe:
- Está tudo bem contigo?
A minha irmã, que já devia estar apavorada, limitou-se a perguntar-lhe se a conhecia de algum lado. O miúdo volta a insistir se podia cantar as Janeiras, ao que a minha irmã se limita a dizer que não, depois de ter sido sugerida a entrada no apartamento. Ao que o homem responde por fim, mais palavra menos palavra, que era ela que perdia.
Estou atónita, nem sei bem o que dizer quanto ao assunto. Será que fizeram o mesmo nas portas dos nossos vizinhos? Será que alguém os deixou entrar? Como é que uma coisa destas pode acontecer?! Usarem uma criança para convencer alguém a abrir uma porta, fazer-se de porco nojento quando vê que é uma miúda que abre a porta?! Em que mundo estamos?
Só prova a minha mania de fechar sempre a porta quando entro ou saio do prédio, olhar constantemente para trás quando ando à noite sozinha na rua, não abrir a porta a ninguém que não se tenha anunciado previamente. Isto é assustador. Verdadeiramente assustador. Nem quero imaginar o que a minha Maria deve ter sentido naquele minuto que deve ter demorado horas...
Sei lá eu que nome lhe chamar. Estou tão triste, desiludida e até chateada, comigo mesma. Por não saber o que sinto. Não saber o que quero.
Um ano, 365 dias de espera interminável. A ansiedade de um novo começo, a vontade de começar uma vida nova, montes de oportunidades. Três semanas, 24 dias foi o tempo que aguentei longe de casa, 10 dos quais, passados na universidade. Quinze dias depois, ainda não sei concretamente o que me levou a tomar a decisão.
E porquê? Porque é que quis tanto ir para Londres? Porque é que finquei pé até o conseguir? Porque é que fiz os meus pais gastar tanto dinheiro? Porque é que não descansei antes de me vir embora? E porque é que, não me sinto tão feliz como devia por ter voltado para casa?
Acabo a sentir-me ridícula pelo que deixo transparecer. E o blog? É aquele refúgio, onde sinto liberdade suficiente para escrever aquilo em que penso. É como que para me obrigar a reflectir sobre o assunto, porque sei sempre que vou ler. Devo sofrer de bipolaridade ou estar a atravessar uma crise de identidade. Bom, talvez a resposta mais assertiva é ser só uma miúda mimada que não sabe o que quer.
Hoje decidi escrever. Sem qualquer post planeado ou tema em concreto para falar. Apeteceu-me simplesmente, e acho que depois de toda a propaganda que fiz em relação a esta minha mudança de vida, devo-vos actualizações. Como sabem, estou em Londres há (quase) três dias. Resumindo por miúdos? Têm sido os dias mais longos e difíceis de toda a minha vida. Porquê? Porque percebi que não me conheço. Ou sendo mais concreta: não me reconheço.
Este último ano foi todo ele uma espera terrível. O nunca mais chegar Setembro, o nunca mais sair do ninho, o nunca mais mudar de vida, nunca mais ir para a universidade... E agora que chegou, só quero voltar para casa. Andei este tempo todo ansiosa pelo que aí vinha, ansiosa por estar a planear fazer uma mudança de 180º na minha vida. Uma mudança valiosa para o meu futuro, um alargamento de culturas, um aperfeiçoamento da língua inglesa, um novo leque de amigos, entre tantas outras coisas. Eu bem vos disse aqui, que me sentia completamente zen. Acho que agora percebi o porquê.
Eu não estava zen coisa nenhuma, estava simplesmente num estado de dormência. Como se estivesse fechada numa bolha, que ninguém conseguia penetrar. A bolha rebentou quando chegou o momento de me despedir da irmã e da mãe. Sim, porque elas insistiram em levar-me ao aeroporto de Lisboa, coisa que aceitei, ainda que contrariada. Achei que só ia aumentar o sofrimento de nos despedirmos à última das horas. Mas foi só e apenas no momento de passar pela segurança, o momento em que ia deixar de as ver, de lhes puder tocar que o mundo me caiu aos pés. Elas, a manterem-se fortes, e eu, a derramar que nem uma criança que perdeu o balão.
Todos os momentos que se seguiram foram um tormento. A viagem de avião, apesar de todo o amor que a TAP me deu (para quem só tinha viajado na Easyjet e na Ryanair, andar na TAP: um sonho) foi um sofrimento. A metade em que não me encontrava a dormir, passei-a a chorar. Incapacidade de controlo emocional. Bastou fechar-se a porta por trás de mim para me mentalizar do que estava a fazer. Sinto-me reduzida a um nada. Sinto-me pequenina. Indefesa. Sozinha. E o que mais me custa, é saber que todas as pessoas que estão a sofrer com a minha ausência se mantêm fortes e me incentivam a ficar, a lutar pelos meus sonhos, pelas minhas ambições.
Não tem nada a ver com a cidade, a língua, as pessoas, nada de nada. Tem a ver comigo. Só comigo. Percebi que não sou capaz. Quem me estiver a ler agora diz: "só aí estás há três dias, como podes fazer já essa avaliação?". Faço-a porque ainda resta um pouco de bom senso na minha mente. Faço-a, porque sei que se não me sinto feliz agora, ficar cá só vai piorar o meu sofrimento.
Esta viagem permitiu-me descobrir/ter a certeza de uma fraqueza minha. Não sou capaz de lidar com a ausência das minhas Marias. E como diria o Pedro Abrunhosa: