Quero dizer, eu já percebi mas há quem ainda não então preciso das opiniões dos meus queridos leitores.
Existem amigos, colegas e conhecidos. Existem conhecidos que são uns porreiros e amigos que nos enganam bem. Existem também aqueles que nos tratam como Deus: só se lembram de lhe rezar quando precisam. Eu conheço uma pessoa assim. Para mim, é só uma conhecida mas há pessoas próximas que a consideram amiga.
Como fazer entender que a pessoa próxima, quem quer sair contigo não quer sair contigo propriamente só quer a tua boleia? Quando mesmo sem carro, insiste e pergunta pelos restantes carros da família ou conhecidos? Que no próprio dia de anos, o amigo ainda não lhe tinha ligado e ela liga "Então, são os meus anos, não me ias ligar?!". Sabendo que o amigo tem namorada, lhe propõe irem morar para o estrangeiro e fazer viagens a Paris?
Sou eu que sou piquinhas ou há mesmo alguma coisa aqui a não bater certo?
Sempre tive uma grande dificuldade em manter amizades. Manter, porque trava-las, é facílimo.
Por vezes, cruzam-se na nossa vida pessoas com características tão semelhantes às nossas que dizemos quase sem dúvidas que será uma amizade longa. Chamar a esta ligação amizade ou mesmo de longa, vai variar das considerações de cada um. Porque em diferentes contextos, diferente medidas, sempre assim será. Infelizmente, sou bastante seletiva naquilo que trago para a minha vida: seja na escolha de roupa no shopping, nas palavras que uso e com quem, nas atitudes e nomeadamente nas pessoas. É por tudo isto que tenho um vasto leque de amizades.
Não acreditem, estou a mentir.
Não pensem com isto que sou um qualquer bicho, que não gosto de me relacionar, conviver e tudo o mais. Simplesmente, a minha seletividade não ajuda neste campo. Porquê? Porque ao contrário da maioria, é para mim muito complicado confundir conhecidos com amigos. Há uma diferença ENORME no meu ponto de vista. Uma opinião que vai gerar sempre conflito. Não sou capaz de chamar amigo a um colega de trabalho. Não sou capaz de chamar amigo a uma pessoa que acabei de conhecer. Muito menos consigo chamar amigo a alguém só porque é amigo de um amigo meu. No caso da família, por exemplo: dou-me super bem com a minha irmã, que é também uma amiga. Será que a ligação de sangue se sobrepõe à amizade? Quero dizer, em primeira instância eu refiro-me a ela como minha irmã, não como minha amiga...
Segundo a Wikipédia, a palavra "amizade" baseia-se numa relação afetiva, geralmente não-romântica, entre duas ou mais pessoas. Guiando-me pela definição, uma parte de mim acha que estou certa quanto a este assunto. Mas... Será que a sociedade em geral, cria ligações afetivas com toda a gente que vê nem que seja uma só vez?
Foi na semana passada, quando cumpria o meu dever de neta, acompanhando os meus avós às suas consultas e afazeres, que reencontrei um amigo que não via há pelo menos três anos.
Apesar de algumas dúvidas, dirigi me a ele e a surpresa acho que foi feliz para ambos. Foi bom saber e sentir que, apesar da distância, do tempo, do não se falar, as coisas permaneceram exatamente iguais ao que eram nos tempos de escola.
Ficou surpreso ao saber que as coisas em Londres não me correram como eu esperava mas ao mesmo tempo contente por ter tido o descerenimento de voltar e poupar mais sofrimento em todos os sentidos. Um rapaz que mal queria saber de estudar e agora é segurança! Como a força de vontade, o tempo e as circunstâncias conseguem mudar uma pessoa e uma vida!
Fica como que uma nostalgia pensar que as pessoas com quem partilhámos tantas peripécias cresceram e são agora adultos. As responsabilidades começam agora, e tudo o que isso acareta.
Venham mais reencontros como aquele, para fazer uma pessoa sentir que mesmo que poucos, ainda tem algumas 'amizades' que se mantêm.
Há um ano atrás, quando decidi candidatar-me a uma universidade britânica, sabia que, se fosse aceite, muita coisa iria mudar na minha vida. Sair de casa, voltar aos estudos depois de um ano de pausa, conhecer pessoas novas, deixar a minha gente para trás, entre tantas outras coisas que esta mudança implicava. A parte que me moveu, foi a oportunidade de um futuro melhor. Só conseguia pensar que, uma licenciatura tirada no reino unido, ia valer uma fortuna no meu currículo. E provocar muita dor de cotovelo, claro.
Sou supersticiosa. Não tenho qualquer problema em admiti-lo. Já vivi situações que me fizeram acreditar que, quando alguém não gosta de ti ou simplesmente não suporta o teu sucesso, o mau olhado existe e pode vir com muita força. Não é que eu seja especial, não sou. Sou apenas mais uma comum mortal que tenta tirar o melhor partido do que a vida lhe dá.
Vir para Londres, era a melhor prova que poderia ter para ver quem estava comigo e quem não. Ver quem me apoiava genuinamente, sem qualquer contra-partida. E tal como esperava, houve reacções bastante reveladoras.
Há umas semanas, num momento de fraqueza, disse aqui que me sentia triste por perceber que as amizades não eram tão fortes como eu julgava que fossem. Nunca fui uma pessoa com muitos amigos. Os meus conceitos de amizade, amor, família, entre outros, sempre foram muito singulares. Há uma enorme diferença entre colega e amigo, entre dizer adoro-te ou amo-te. Talvez seja por ser tão selectiva, que nunca vivi a vida normal de um adolescente. Nunca tive grandes amores, grandes amizades nem grandes festas para recordar.
Voltando ao ponto inicial deste post, a inveja, é um sentimento que caracteriza a minha jornada. Já ninguém acreditava que eu ia voltar a estudar. Aquilo que ninguém sabe, ninguém pode estragar. Por isso, tranquei este projeto a sete chaves durante o máximo tempo que pude. Até que apanhei o avião, cheguei a Londres, mudei os meus dados no facebook e começou a chuva de perguntas. Confesso, tenho me divertido imenso com os relatos que a minha querida mãe faz quando falamos, todos os dias, de todas as pessoas que perguntam e não perguntam por mim.
Fui surpreendida tanto pela positiva como pela negativa. Duas tias, que falam regularmente para saber como estou. O resto, que nem pergunta pela minha irmã porque sabem que depois parece mal não perguntar pela Nadine. Aquela única amiga, que eu pensava ser amiga e que afinal não o é. Aquele rapaz da festa, que fala comigo diariamente para saber tudo sobre esta aventura e os meus diferentes estados de espírito. Os amigos da mana, que me dizem olá pelo skype e me mandam muitos beijinhos e muita sorte. Aquele colega, com quem não falava há anos e me dá muita força para perseguir este sonho. A mãe, o pai, a irmã e os avós maternos que são os melhores do mundo.
Porque é nas pequenas coisas, que se veem as grandes diferenças.