Faz praticamente dois meses que estou a trabalhar na sapataria. Com tudo isso, conheci pessoas novas que mantêm uma distância de segurança enorme: não passam nem vão passar de colegas, novos sítios - atendendo à localização de algumas lojas e até clientes muito pouco divertidos. Poderia dizer que era da época que estamos a viver, mas acho que não. É mesmo estupidez pura. E como vou ouvindo umas pérolas de vez em quando, acho que vou presentear-vos com elas.
A de hoje, foi de ontem. Uma família numerosa (8 pessoas) numa sapataria pequena, sem contar com uns quantos outros clientes, decide o homem da casa (aparentemente) que quer comprar umas botas. Ok, vamos lá mostrar uns modelos ao senhor. Nisto, enquanto ele exprimenta, pergunto:
- Então, como se sente com elas? Gosta?
- Gostar gosto, mas gostava mais da menina vestida de mãe natal em minha casa.
Mulher, filhas e restantes rieem-se. Eu, como não percebi a piada, e para não dar ar de mal educada fui simpatica e sorridentemente atender outro cliente. Será isto normal? Acho que não, mas vai ser sempre assim.
Tenho andado muito afastada deste mundo. E custa-me, acreditem que sim. A causa? Trabalho, trabalho e outra vez trabalho. Para uns, será visto como uma desculpa esfarrapada. Outros, talvez entenderão.
Tenho um horário dito normal. Trabalho de Domingo a Domingo, com (habitualmente) uma a duas folgas semanais. Entro às 10, saio às 20h. Não fosse estar fora da minha cidade e precisar de sair de casa cerca de hora e meia antes e chegar hora e meia depois, tudo estaria perfeito. A empresa tem oito lojas no total: três na cidade, duas nos arredores e outras três em diferentes distritos. Eu, como sou nova na empresa e não tenho carro próprio, ando a reboque, a saltar de loja em loja, tal como os restantes colegas, claro está.
Somos todos novos, a maioria na casa dos vintes e uma ou outra colega nos trintas. Ainda não trabalhei com todos, mas acho que são pessoas muito simples e acessíveis. Claro que uns mais que outros mas sempre disponíveis a ajudar. Há bom ambiente, e acho isso um fator muito importante.
Já fez um mês que ali estou, já recebi o meu ordenado e estou escandalizada com o valor que descontei para a Segurança Social! Acho que é isto a que chamam vida adulta, se bem que continuo sem saber o que é pagar uma renda, ter filhos e manter um carro. Tudo a seu tempo, como se costuma dizer.
Acho os patrões muito corretos, apesar de tudo o que já ouvi a respeito deles. Como diz o ditado: "Ganha fama e deita-te a dormir". Pois bem, deve ter sido isso que aconteceu ali porque até agora, não acho ter fundamento o que se diz por aí. Os subsídios são pagos todos direitinhos, as horas extras também. Está tudo certo.
Este mês de Dezembro é um terror. Devido ao típico português, que faz tudo na última das horas, até o dia 24 vou ter que trabalhar! E como há falta de pessoal, nem folgas tem havido. Consegui uma hoje, depois de duas longas semanas, só e simplesmente porque a minha Maria mamã faz anos e pedi para passar o dia com ela!
Acredito que vou sobreviver. Se não me mandarem embora, sinceramente, também não penso sair. Vou arranjar-me para em conjunto com a minha Maria mais nova, levarmos a mamã a jantar fora e lhe fazer-mos uma boa surpresa. Um resto de bom feriado! Até qualquer dia!