Vê-los passar
Tem sido assim, cada dia, cada semana, cada mês. Não tarda nada, um ano.
Tenho, como acredito que a maioria, visto a vida a passar por mim. Não tenho a real noção do tempo, do que já fiz ou do que me falta fazer. Se está na hora de ir apanhar ar ou ir dormir. Pegar nos sacos para ir às compras ou resumir-me ao meu horário laboral.
Antes de tudo isto, tinha formação em pós-laboral. Ia ao ginásio com uma frequência regular. Visitava os avós, ligava aos amigos. Lia livros, via séries. Planeava a minha vida.
Agora? Ironicamente, não sobra tempo. Não sobra ou só perdi a vontade e/ou capacidade de o gerir. É levantar, ir trabalhar, voltar a casa, petiscar, dormir. Quando a disposição abona, sou capaz de jantar em condições, colocar uma música animada e desfrutar da minha companhia. Dou por mim, todas as semanas, a pensar que volto aqui ao blog falar-vos mas quando efetivamente volto, percebo que voltaram a passar dois meses entre publicações.
Dois meses... Como é possível? Como é possível que agora que o mundo parou é que parece que o tempo tem brincado connosco? Não se sentiu o verão, as festas, o Natal, o Ano Novo. Parece que nada teve "valor" ou foi carregado do sentimento habitual. E eu, que mantenho a minha atividade laboral como se nada fosse, nada tenho para me queixar.
A Clínica continua aberta. A minha família saudável, os amigos também. O contrato renovou nos entretantos. Não há trabalhos perfeitos mas ali estou perto. Há quem diga que tive pouca sorte no que tive antes mas o facto, é que continuo a sentir-me no paraíso. Sinto-me abençoada por viver sozinha, ter o meu silêncio, a minha paz. Por ter aprendido a falar com os meus botões e por finalmente, gostar tanto deles! Estar cheia de planos e objetivos, ideias e projetos para tornar o meu lar cada vez mais meu e sobretudo, radiante pelo estado psicológico em que me encontro.
Bati ontem de frente com a frase "Quando descobres o valor que tens, não permites que mais ninguém duvide dele". Não é a primeira vez que a ouço mas agora, sinto-a de uma forma totalmente nova. Mais do que a sentir, é ver que à minha volta isso se nota. Fiz um upgrade à minha pessoa e sem dúvida, que isso, foi a melhor coisa que aconteceu neste último ano.
Encontrei o amor. O maior deles todos. E hoje rio-me por não perceber como demorei 23 anos a decidir procura-lo. Por não ter percebido que enquanto eu não me amasse, não poderia amar. Por não ter percebido que uma segunda pessoa serve para complementar e não completar.
E céus... Como é revitalizante por fim sentir-me completa!
Que estejam todos completos e saudáveis desse lado!