Hoje decidimos dar-nos um mimo e tomar o pequeno almoço fora de casa.
Fomos a uma das pastelarias mais conhecidas da cidade, a Capuchinha. Adoro ir lá, principalmente quando são necessários bolos para as festividades mas nunca me tinha sentado numa mesa, a comer fosse o que fosse.
Fiquei tão decepcionada com o funcionário. Aparentemente, dos mais velhos da casa, daqueles que já fazem parte da mobília. Primeiro, demorou imenso a vir atender-nos. Enquanto isto, houve mais quem reclamasse também da demora. Umas senhoras, nomeadamente, queixaram-se de da demora e de uma torrada vir queimada, ao que levaram uma espécie de berro do senhor dizendo "Está queimada o quê?!", entre outras coisas que nem tomei total atenção. Ou as conhecia, ou faltou o profissionalismo. Depois, abordou-nos com um "Que vai ser?", sem um sorriso, sem um bom dia. Quando trouxe o pedido, o meu copo vinha lascado na borda, o bule do chá para a minha mãe estava rachado, e bem rachado. No fim, mais um sacrifício enorme para ter a atenção dele. Conseguimos pagar, fizemos referência às falhas, que aparentemente foram bem recebidas, e ficámos surpreendidas por ser uma despesa menor do que se esperava.
Não digo que não vá voltar lá, porque muito provavelmente vou. Mas para comer lá, ou ser atendida novamente pelo mesmo funcionário, não me parece.
Bom, como disse, poucos dias antes de acabar o ano, vai haver algumas mudanças aqui por este lado. Acontecem já nos próximos dias, e acho que já posso falar no assunto.
Desde pequena que sonho com o estrangeiro. Não sei se é pelo facto de ter nascido e vivido metade da minha vida lá, se pelo que tomei consciência a nível financeiro, se por todas as pequenas ou maiores viagens que fiz até hoje. Foi uma ideia que nunca abandonei. É uma questão que tem muitos prós mas outros tantos contras.
E por isso, estando desde há dois meses semi-empregada decidi optar pela emigração. Acho que estou na melhor idade para tentar. Não perco nada, só posso ganhar. E bom, espero que não se assemelhe em nada o que passei anteriormente quando decidi prosseguir, e abandonar quase ao mesmo tempo os estudos.
O meu pai está por lá, e já me tinha convidado várias vezes a ir. Disse sempre que não, tendo em conta que tinha um trabalho fixo, e que nem estava assim tão mal. Mas cheguei a um ponto em que quero mais. Quero experimentar coisas novas. Aproveitar esta rampa de lançamento. Vou com casa, com trabalho. Tenho tudo!
Esta experiência vai servir para aquilo que servem todas as distâncias e/ou afastamentos: provar se alguns laços são de facto importantes e fortes o suficiente para perdurarem.
Desde bem pequenas, que os nossos pais nos ensinaram todas aquelas regras básicas que estamos fartos de ouvir. Não manusear facas, não mexer no fogão sem adultos por perto, não ir nem falar com estranhos e sobretudo, não lhes abrir a porta.
Abrimos a porta, seja no prédio, seja no apartamento, umas duas vezes em cada trinta. Não só pelos ensinamentos prévios, mas pelo facto de o nosso intercomunicador ser bastante eficaz e nunca ouvirmos a resposta de quem se encontra do outro lado.
Contou-me a minha Maria mais nova, o que se tinha passado no serão de domingo, enquanto cá em casa se preparavam para jantar, e eu me encontrava a trabalhar. Tocaram à campainha, no apartamento. Diz a minha irmã que era uma criança, a pedir para cantar as Janeiras. Não sei porquê, e acho que nem ela própria sabe, mas abriu a porta. Foi então que se deparou não só com uma criança, como também com um homem adulto de raça negra, a fumar, com o maior dos descaramentos. A minha irmã diz que pensou em adverti-lo para o caso, mas sorriu para o miúdo, como eu provavelmente também teria feito. Quando foi a última vez que alguém falou em cantar as Janeiras?! E quando deu por ela, estava o homem debruçado na ombreira da porta, segundo ela, com aquela "cara depravada de pedófilo", passo a expressão, e o miúdo voltou a perguntar se podia cantar as Janeiras. Entretanto, o homem vira-se para ela e pergunta-lhe:
- Está tudo bem contigo?
A minha irmã, que já devia estar apavorada, limitou-se a perguntar-lhe se a conhecia de algum lado. O miúdo volta a insistir se podia cantar as Janeiras, ao que a minha irmã se limita a dizer que não, depois de ter sido sugerida a entrada no apartamento. Ao que o homem responde por fim, mais palavra menos palavra, que era ela que perdia.
Estou atónita, nem sei bem o que dizer quanto ao assunto. Será que fizeram o mesmo nas portas dos nossos vizinhos? Será que alguém os deixou entrar? Como é que uma coisa destas pode acontecer?! Usarem uma criança para convencer alguém a abrir uma porta, fazer-se de porco nojento quando vê que é uma miúda que abre a porta?! Em que mundo estamos?
Só prova a minha mania de fechar sempre a porta quando entro ou saio do prédio, olhar constantemente para trás quando ando à noite sozinha na rua, não abrir a porta a ninguém que não se tenha anunciado previamente. Isto é assustador. Verdadeiramente assustador. Nem quero imaginar o que a minha Maria deve ter sentido naquele minuto que deve ter demorado horas...
Como toda a gente sabe, recentemente houve uma actualização no Decreto-Lei nº 58/2016 que nos diz que deixou de haver um local para o atendimento prioritário, mas sim todos eles de uma forma geral. Sinceramente? Estou de acordo e acho muito bem. Agora depende daquilo que algumas pessoas vão querer fazer disto.
Na sexta feira passada, entre muitos lugares, fui ao Pingo Doce. Com a confusão esperada, devo ter demorado uns bons 20 minutos na fila para pagar um mísero saco de sílica em promoção para o meu pequenino. Atrás de mim na fila, havia um senhor com um carrinho e uma bebé. Quando finalmente chegou a minha vez de ser atendida, o instante da abordagem da operadora de caixa foi o mesmo em que a bebé me pontapeou a carteira e me fez olhar para trás. Ri-me para ela, e fiquei umas milésimas de segundo entretida. A operadora de caixa pergunta me assim que me volto para ela, se a bebé era minha, muito atrapalhada por não me ter cedido prioridade. Ao que eu respondi prontamente que não. Foi então, que ela sugeriu de forma pouco subtil, que deixasse o senhor passar. Olhei estupefacta para ela, como quem lhe dizia mentalmente se ela não conhecia a lei na sua íntegra. Quando ia intervir, o senhor fê-lo por mim, ao frisar que estava acompanhado de uma criança, sim, mas não de uma criança ao colo.
Não foi nada de mais, e teria com toda a certeza deixado passar qualquer pessoa. Desde que fosse verdadeiramente uma prioridade, o que neste caso, não era certamente. Mas felizmente, a pessoa que me seguia, foi civilizada o suficiente e sabe da lei na sua íntegra.